terça-feira, 18 de junho de 2013

O Clube de Leitura - PALAVRAS AO ALTO

PALAVRAS AO ALTO
foi a sessão final de O Clube de Leitura - Montijo, o culminar de todo o trabalho feito durante quase um ano, que deu a conhecer os "gigantescos anunciadores de sentido" que deram voz e vida aos livros em cada sessão.



Se poesia é para comer o que dizer dos (bons) nacos de prosa? 
(Paulo Carregosa)



Os elementos do Clube, os convidados e os textos lidos






Contamos com a presença do Exm.º Senhor Vereador da Cultura da CMM, Dr. Renato Gonçalves.









Jorge






Com o representante da Editora Alfarroba














E, após a apresentação dos elementos de O Clube de Leitura, deu-se início à sessão.





A Carmen também quis participar e leu de Rabindranath Tagore "Falem-me as palavras da tua boca", muito adequado ao que a seguir se assistiu.

FALA-ME, fala-me!
diz-me em palavras
o que cantastes!

... Como escureceu a noite!
Perderam-se as estrelas entre as nuvens
e o vento anda pelas folhas...
Desatarei os meus cabelos.
O meu manto azul
vai envolver-me como outra noite.
Carmen Ezequiel


Apertarei a tua cabeça contra o meu peito,
e, na nossa doce solidão,
falarei ao teu coração, baixinho...
Fecharei os olhos para ouvir-te.
Não olharei para a tua cara...

Quando acabares,
ficaremos os dois mudos e quedos.
Ouvir-se-ão apenas as árvores
na sombra...
Empalidecerá a madrugada 
e o dia ir-se-á abrindo.
Olhar-nos-emos nos olhos
e cada um irá por seu caminho...

Fala-me, fala-me!
Diz-me em palavras
o que cantastes!


E, PALAVRAS AO ALTO seguiu-se.




Cheira as folhas não te rales. Ler é festa de gala – põe olfacto, mesmo sem gravata…
(Paulo Carregosa)



Marisa

Luís

Paulo, Ana Maria e Graciete

Luís e o seu "Alma Só"

Agostinha, Teresa e Fernanda

Graciete

Agostinha, Teresa e Fernanda...

...e a Viagem

Helena

Paulo

Ana Maria









Porquê ler em voz alta? As palavras ganham ritmo, cor e alegria. 
(Luís Correia)

Paulo, Ana Maria, Marisa e o "Segredo" em cânone

Graciete, Helena e Luís


Depois, vieram os convidados, amigos e/ou família.


Ana Maria e Fernanda (duas colegas de profissão)


Quem lê nas entrelinhas tem sempre mais para ler. 
(Paulo Carregosa)



Ana Paula Lopes e Paulo Carregosa


O texto que ambos leram é da autoria do Paulo, pelo que aqui fica o seu registo.



Alto! Aproximação de Clube com prioridade

Este Clube tem coisas
Que poucos se podem gabar                             
Tem ordenados em dia
Não há contas por pagar

Há outra coisa diferente
Que relembro nesta hora
Sempre jogámos em casa
Nunca fomos jogar fora

Não o fizemos por mal
É testemunha o poeta
O relvado habitual
Foi aqui, na biblioteca

Uma relva bem tratada
Que eu saiba, nunca empoçou
Mais, ou menos ritmada
A poesia rolou

Adversários, se os houve
Talvez a superação…
Ora lendo com raiva
Ora ternos, com paixão

No Clube partilhámos
A arte de bem poetar
Lemos em pé tantas vezes
E até de pernas pró ar

Se a poesia é pra comer
Vamos lá saborear
Como Alfarroba a crescer
Tratemos então de a regar

Hoje a família veio toda
Netos, filhos, avós
Lembremos então a Carmen
 E que o sol brilhe em nós

E a Sara deu-nos chá
Saboroso e prazenteiro
Leu-nos histórias, aqueceu-nos
Eram folhas de Loureiro

Mas também houve objectos
Carregados de tradição
A cadeira da Fernanda
Que passa de mão em mão

E na última sessão
O chocolate brilhou
Às fatias de emoção
Nem a ginginha faltou!

Para o ano cá estaremos
Não custa nada sonhar
Proponho que renovemos
Mais um ano a palavrar!



Ana Alexandra e Helena Barros





A Ana brilhou com o "Fado da tristeza".
É uma excelente "dizente".
















Catarina Coelho e Agostinha Silva

o seu pierrot






























É leitor? Tem o tom da palavra.  
(Paulo Carregosa)


No Clube de Leitura as palavras ganham vida. 
(Luís Correia)


Filipa Amaral e Ana Maria



Quando leio divirto-me a sonhar alto e desperto para o outro que lê a meu lado. 
(Sandra Coelho)




Graciete Correia e Luísa Ferreira



Aplicada à leitura a arte de (bem) capitular pode ser de um prazer infinito. 
(Paulo Carregosa)



Sandra e Catarina João Ferrão Coelho

As emoções de "Palavras para a minha mãe", de José Luís Peixoto.

Sandra Coelho

Catarina Coelho



Há coisas na vida que simplesmente acontecem, tais como: a família, os amigos, o amor, o convívio, a partilha de gostos e interesses comuns, as conversas… E, e nessa perspectiva que eu encaro o Clube de Leitura e a minha participação. 
(Helena Barros)




E, em jeito de PALAVRAS AO ALTO todos leram "Há palavras que nos beijam", de Alexandre O'Neill.

O Clube de Leitura

Textos da autoria de Luís Correia, lidos durante o espectáculo.



Ser Manhã

Sentado,

Na penumbra do quarto,

De joelhos no peito

E mãos sobre os joelhos.

Olha pela janela.

Vê o sol que adormece.

Vê as sombras da cidade crescerem.

E o manto de sombra adensa-se.

No horizonte,

Os pontos luminosos denunciam

A existência de mais alguém,

Além do infinito.

E imóvel, sentado de joelhos no peito

E mãos sobre os joelhos,

Lá continua… a olhar pela janela.

A sua expressão fechada

Não revela qualquer sentimento.

Limita-se a Ser.

E o tempo passa!

A olhar pela janela da utopia

Vê nascer um novo dia,

Dos olhos caiem lágrimas de orvalho.

A sua boca esboça um sorriso de alvorada.


Alma Só


Eis-me aqui, sentado,
Olhando o mar calmo e sereno.
A sua quietude contrasta
Com o estado da minh’alma.
Inquieta e sem sossego
Ansiando por ti.
Até as gaivotas,
Parecem adivinhar
Este mar revolto de emoções.
Na linha do horizonte
Vislumbro a tua imagem delineada.
Num gesto fugaz…
Ergo o braço!
Quase toco o teu rosto!
Mas… é tudo em vão.
Tudo se desvanece
E evapora no ar
No ocaso de um suspiro.
E assim, eis-me aqui sentado,
No crepúsculo da memória
Vendo os meus lamentos
Que se espraiam,
Na areia da Solidão.



E, de João Barbosa que se encontrava entre os convidados.


Menino

Como dorme
O meu menino.

Indiferente ao mundo,
Só falta sorrir
Para a lua se derreter
E escorrer
De contente
Por este sono profundo…



Não Era Água...

Não sabia que aqui havia
Uma catarata. Era um rumor de água a correr,
De água a cair…
Mas quando fui ver,
Ouvi uma floresta:
Pinheiros ao vento dançavam
Como pêndulos invertidos,
Para um lado, para o outro…
Por esta
Não esperavam os meus sentidos
- para um lado, para o outro…

A água não era água, afinal!
Era vento, sim, era vento,
Ar em movimento
A baloiçar pinheiros.

Talvez fosse um sinal,
Talvez fosse um lamento
Longínquo, profundo
De todos quantos no mundo
Anseiam ser (mesmo sem saber,
Mesmo sem os conhecer)
Como pinheiros:

Sem saudade ou tormento,
Só pinheiros serenos,
Em sereno movimento,
A sussurrar
Num simples baloiçar
Com o vento.
  

Segredo

Sei de um ninho.
Tinha um ovo,
Tem um passarinho.

Sei que é segredo,
Sei guardá-lo bem.
Não vou mostrá-lo a ninguém.



Dar

De braços abertos, à espera.

Olha como a luz está de braços abertos, à espera
Que lhe dês um menino…

E dás,
Dás mesmo um menino à luz!



João Barbosa (não foi em jeito de homenagem mas aconteceu e os seus poemas fizeram parte desta sessão especial)


Quase, quase a ir embora a Anabela, a nossa doce guardadora do Clube leu um excerto do Manifesto Anti-Leitura de José Fanha.



[…] Se puserem um livro à vossa frente, caros amigos, cuidado! Desviem o olhar! Não abram nem uma página! Pode bastar um verso para vos contaminar!
Uma geração que lê é uma geração que pensa!
A leitura faz-nos rir de pessoas sérias e responsáveis como o conde de Abranhos, o Sancho Pança ou o escriturário Barthleby. […]
A leitura faz-nos viajar por lugares mal frequentados como a ilha do tesouro, o beco das sardinheiras do Mário de carvalho, os mares do ‘Moby Dick’, a Buenos Aires de Borges, a Paris de Marcel Proust, a Londres de Oscar wilde, a Moscovo de Tolstoi!
A leitura prejudica gravemente a ignorância! E sem ignorância o país não progride! Não crescem os juros! Não se investe nas off-shores! O estado não vende empresas abaixo do preço aos particulares! O preço da gasolina não sobe!
É preciso preparar o futuro dos nossos filhos! Não lhes dar ilusões, nem sonhos, nem alegrias! Nem dúvidas, nem sabedoria, nem nada!”
Sabemos que pode parecer doloroso mas é fundamental arrancar de vez os livros das mãos dos viciados e impedi-los de ler uma linha sequer! Se for preciso tapem-lhes os olhos!
Um homem que lê pode desejar viver num mundo melhor! Pode de repente sentir as lágrimas correrem-lhe pela cara abaixo! Pode querer subitamente ajudar os aflitos! Pode abraçar estupidamente um amigo ou beijar os lábios de uma rapariga bela como um raio de sol a iluminar a mais bela rosa do jardim! Por isso é preciso fechar as portas aos antros de leitura [as bibliotecas]!
Anabela
Uma geração que lê é uma geração que critica!
Uma geração que lê é uma geração que duvida!
Uma geração que lê é uma geração que questiona!

Uma geração que pensa e duvida e questiona e critica não engole qualquer patranha que lhe queiram enfiar! Não obedece! Não se baixa! Não se cala!
Uma geração que lê e pensa é um perigo[…]













A todos o meu maior agradecimento pela partilha de vozes, de tempo, de carinho e alegria. Pode ser que um dia se repita.
Carmen Ezequiel