PALAVRAS AO ALTO
foi a sessão final de O Clube de Leitura - Montijo, o culminar de todo o trabalho feito durante quase um ano, que deu a conhecer os "gigantescos anunciadores de sentido" que deram voz e vida aos livros em cada sessão.
Se poesia é para comer o que dizer dos (bons) nacos de prosa?
(Paulo
Carregosa)
Os elementos do Clube, os convidados e os textos lidos |
Contamos com a presença do Exm.º Senhor Vereador da Cultura da CMM, Dr. Renato Gonçalves.
Jorge |
Com o representante da Editora Alfarroba
E, após a apresentação dos elementos de O Clube de Leitura, deu-se início à sessão.
A Carmen também quis participar e leu de Rabindranath Tagore "Falem-me as palavras da tua boca", muito adequado ao que a seguir se assistiu.
FALA-ME, fala-me!
diz-me em palavras
o que cantastes!
... Como escureceu a noite!
Perderam-se as estrelas entre as nuvens
e o vento anda pelas folhas...
Desatarei os meus cabelos.
O meu manto azul
vai envolver-me como outra noite.
Carmen Ezequiel |
Apertarei a tua cabeça contra o meu peito,
e, na nossa doce solidão,
falarei ao teu coração, baixinho...
Fecharei os olhos para ouvir-te.
Não olharei para a tua cara...
Quando acabares,
ficaremos os dois mudos e quedos.
Ouvir-se-ão apenas as árvores
na sombra...
Empalidecerá a madrugada
e o dia ir-se-á abrindo.
Olhar-nos-emos nos olhos
e cada um irá por seu caminho...
Fala-me, fala-me!
Diz-me em palavras
o que cantastes!
E, PALAVRAS AO ALTO seguiu-se.
Cheira as folhas não te rales. Ler é festa de gala – põe olfacto,
mesmo sem gravata…
(Paulo Carregosa)
Marisa |
Luís |
Paulo, Ana Maria e Graciete |
Luís e o seu "Alma Só" |
Agostinha, Teresa e Fernanda |
Graciete |
Agostinha, Teresa e Fernanda... |
...e a Viagem |
Helena |
Paulo |
Ana Maria |
Porquê ler em voz alta? As palavras ganham ritmo, cor e alegria.
(Luís Correia)
Paulo, Ana Maria, Marisa e o "Segredo" em cânone |
Graciete, Helena e Luís |
Depois, vieram os convidados, amigos e/ou família.
Ana Maria e Fernanda (duas colegas de profissão) |
Quem
lê nas entrelinhas tem sempre mais para ler.
(Paulo Carregosa)
Ana Paula Lopes e Paulo Carregosa |
O texto que ambos leram é da autoria do Paulo, pelo que aqui fica o seu registo.
Alto! Aproximação de Clube com
prioridade
Este Clube tem coisas
Que poucos se podem gabar
Tem ordenados em dia
Não há contas por pagar
Há outra coisa diferente
Que relembro nesta hora
Sempre jogámos em casa
Nunca fomos jogar fora
Não o fizemos por mal
É testemunha o poeta
O relvado habitual
Foi aqui, na biblioteca
Uma relva bem tratada
Que eu saiba, nunca
empoçou
Mais, ou menos ritmada
A poesia rolou
Adversários, se os houve
Talvez a superação…
Ora lendo com raiva
Ora ternos, com paixão
No Clube partilhámos
A arte de bem poetar
Lemos em pé tantas vezes
E até de pernas pró ar
Se a poesia é pra comer
Vamos lá saborear
Como Alfarroba a crescer
Tratemos então de a regar
Hoje a família veio toda
Netos, filhos, avós
Lembremos então a Carmen
E que o sol brilhe em nós
E a Sara deu-nos chá
Saboroso e prazenteiro
Leu-nos histórias,
aqueceu-nos
Eram folhas de Loureiro
Mas também houve objectos
Carregados de tradição
A cadeira da Fernanda
Que passa de mão em mão
E na última sessão
O chocolate brilhou
Às fatias de emoção
Nem a ginginha faltou!
Para o ano cá estaremos
Não custa nada sonhar
Proponho que renovemos
Mais um ano a palavrar!
Ana Alexandra e Helena Barros |
A Ana brilhou com o "Fado da tristeza".
É uma excelente "dizente".
Catarina Coelho e Agostinha Silva |
o seu pierrot |
É leitor? Tem o tom da palavra.
(Paulo Carregosa)
No Clube de Leitura as palavras ganham vida.
(Luís Correia)
Filipa Amaral e Ana Maria |
Quando leio divirto-me a sonhar alto e desperto para o outro que lê
a meu lado.
(Sandra Coelho)
Graciete Correia e Luísa Ferreira |
Aplicada à leitura a arte de (bem) capitular pode ser de um prazer
infinito.
(Paulo Carregosa)
Sandra e Catarina João Ferrão Coelho |
As emoções de "Palavras para a minha mãe", de José Luís Peixoto.
Sandra Coelho |
Catarina Coelho |
Há coisas na vida que simplesmente acontecem, tais como: a família,
os amigos, o amor, o convívio, a partilha de gostos e interesses comuns, as
conversas… E, e nessa perspectiva que eu encaro o Clube de Leitura e a minha
participação.
(Helena Barros)
E, em jeito de PALAVRAS AO ALTO todos leram "Há palavras que nos beijam", de Alexandre O'Neill.
O Clube de Leitura |
Textos da autoria de Luís Correia, lidos durante o espectáculo.
Ser Manhã
Sentado,
Na penumbra do quarto,
De joelhos no peito
E mãos sobre os joelhos.
Olha pela janela.
Vê o sol que adormece.
Vê as sombras da cidade crescerem.
E o manto de sombra adensa-se.
No horizonte,
Os pontos luminosos denunciam
A existência de mais alguém,
Além do infinito.
E imóvel, sentado de joelhos no
peito
E mãos sobre os joelhos,
Lá continua… a olhar pela janela.
A sua expressão fechada
Não revela qualquer sentimento.
Limita-se a Ser.
E o tempo passa!
A olhar pela janela da utopia
Vê nascer um novo dia,
Dos olhos caiem lágrimas de
orvalho.
A sua boca esboça um sorriso de
alvorada.
Alma Só
Eis-me aqui, sentado,
Olhando o mar calmo e sereno.
A sua quietude contrasta
Com o estado da minh’alma.
Inquieta e sem sossego
Ansiando por ti.
Até as gaivotas,
Parecem adivinhar
Este mar revolto de emoções.
Na linha do horizonte
Vislumbro a tua imagem delineada.
Num gesto fugaz…
Ergo o braço!
Quase toco o teu rosto!
Mas… é tudo em vão.
Tudo se desvanece
E evapora no ar
No ocaso de um suspiro.
E assim, eis-me aqui sentado,
No crepúsculo da memória
Vendo os meus lamentos
Que se espraiam,
Na areia da Solidão.
E, de João Barbosa que se encontrava entre os convidados.
Menino
Como dorme
O meu menino.
Indiferente ao mundo,
Só falta sorrir
Para a lua se derreter
E escorrer
De contente
Por este sono profundo…
Não Era Água...
Não sabia que aqui havia
Uma catarata. Era um rumor de água
a correr,
De água a cair…
Mas quando fui ver,
Ouvi uma floresta:
Pinheiros ao vento dançavam
Como pêndulos invertidos,
Para um lado, para o outro…
Por esta
Não esperavam os meus sentidos
- para um lado, para o outro…
A água não era água, afinal!
Era vento, sim, era vento,
Ar em movimento
A baloiçar pinheiros.
Talvez fosse um sinal,
Talvez fosse um lamento
Longínquo, profundo
De todos quantos no mundo
Anseiam ser (mesmo sem saber,
Mesmo sem os conhecer)
Como pinheiros:
Sem saudade ou tormento,
Só pinheiros serenos,
Em sereno movimento,
A sussurrar
Num simples baloiçar
Com o vento.
Segredo
Sei de um ninho.
Tinha um ovo,
Tem um passarinho.
Sei que é segredo,
Sei guardá-lo bem.
Não vou mostrá-lo a ninguém.
Dar
De braços abertos, à espera.
Olha como a luz está de braços
abertos, à espera
Que lhe dês um menino…
E dás,
Dás mesmo um menino à luz!
João Barbosa | (não foi em jeito de homenagem mas aconteceu e os seus poemas fizeram parte desta sessão especial) |
Quase, quase a ir embora a Anabela, a nossa doce guardadora do Clube leu um excerto do Manifesto Anti-Leitura de José Fanha.
[…] Se puserem um livro à vossa frente, caros amigos, cuidado! Desviem
o olhar! Não abram nem uma página! Pode bastar um verso para vos contaminar!
Uma geração que lê é uma geração que pensa!
A leitura faz-nos rir de pessoas sérias e responsáveis como o conde de
Abranhos, o Sancho Pança ou o escriturário Barthleby. […]
A leitura faz-nos viajar por lugares mal frequentados como a ilha do
tesouro, o beco das sardinheiras do Mário de carvalho, os mares do ‘Moby Dick’,
a Buenos Aires de Borges, a Paris de Marcel Proust, a Londres de Oscar wilde, a
Moscovo de Tolstoi!
A leitura prejudica gravemente a ignorância! E sem ignorância o país
não progride! Não crescem os juros! Não se investe nas off-shores! O estado não
vende empresas abaixo do preço aos particulares! O preço da gasolina não sobe!
É preciso preparar o futuro dos nossos filhos! Não lhes dar ilusões,
nem sonhos, nem alegrias! Nem dúvidas, nem sabedoria, nem nada!”
Sabemos que pode parecer doloroso mas é fundamental arrancar de vez os
livros das mãos dos viciados e impedi-los de ler uma linha sequer! Se for
preciso tapem-lhes os olhos!
Um homem que lê pode desejar viver num mundo melhor! Pode de repente
sentir as lágrimas correrem-lhe pela cara abaixo! Pode querer subitamente
ajudar os aflitos! Pode abraçar estupidamente um amigo ou beijar os lábios de
uma rapariga bela como um raio de sol a iluminar a mais bela rosa do jardim!
Por isso é preciso fechar as portas aos antros de leitura [as bibliotecas]!
Anabela |
Uma geração que lê é uma geração que critica!
Uma geração que lê é uma geração que duvida!
Uma geração que lê é uma geração que questiona!
Uma geração que pensa e duvida e questiona e critica não engole
qualquer patranha que lhe queiram enfiar! Não obedece! Não se baixa! Não se
cala!
Uma geração que lê e pensa é um perigo[…]
A todos o meu maior agradecimento pela partilha de vozes, de tempo, de carinho e alegria. Pode ser que um dia se repita.
Carmen Ezequiel
Sem comentários:
Enviar um comentário