quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O clube de leitura - O COMEÇO


O CLUBE e alguns dos seus elementos

Márcia Balsas
António Eugénio
Vanessa Contumélias

Luís Correia

Sara Loureiro

Graciete Correia

Helena Barros

Maria Perpétua

Maria Agostinha

Adília Silva


Carmen Ezequiel



Após a PRAXE das apresentações, ousámos levantar a voz e - tímidos, destemidos e expetantes, - revivemos a obra poética de:


 O Palácio
Era um dos palácios do Minotauro
— O da minha infância para mim o primeiro —
Tinha sido construído no século passado (e pintado a vermelho)
Estátuas escadas veludo granito
Tílias o cercavam de música e murmúrio
Paixões e traições o inchavam de grito
Espelhos ante espelhos tudo aprofundavam
Seu pátio era interior era átrio
As suas varandas eram por dentro
Viradas para o centro
Em grandes vazios as vozes ecoavam
Era um dos palácios do Minotauro
O da minha infancia — para mim o vermelho
Ali a magia como fogo ardia de Março a Fevereiro
A prata brilhava o vidro luzia
Tudo tilintava tudo estremecia
De noite e de dia
Era um dos palácios do Minotauro
— O da minha infância para mim o primeiro —
Ali o tumulto cego confundia
O escuro da noite e o brilho do dia
Ali era a furia o clamor o não-dito
Ali o confuso onde tudo irrompia
Ali era o Kaos onde tudo nascia

in O Nome das Coisas, 1977



No final brincámos de SER POETA e gritámos BEM ALTO:

SER POETA - Florbela Espanca








O clube de leitura - BEM VINDOS

"O desaparecimento da leitura em voz alta é muito estranho. O que teria Dostoievski pensado disto? E Flaubert? Já não há o direito de colocar as palavras na boca antes de as meter na cabeça? Já não há ouvidos? Já não há música? Já não há saliva? As palavras já não sabem a nada? O que é que se passa? Não declamou Flaubert a sua Bovary em altos gritos, até furar os tímpanos? Não estará ele definitivamente melhor colocado do que qualquer outro para saber que a compreensão do texto passa pelo som das palavras, de onde deriva todo o seu sentido? Não saberia ele como ninguém, ele que tanto lutou contra a música intempestiva das sílabas, contra a tirania das cadências, que o sentido se pronuncia? Então? Textos mudos para puros espíritos? Rabelais, ajuda-me! Flaubert, Dosto, Kafka, Dickens, acudam-me! Gigantescos anunciadores de sentido, venham cá! Venham soprar nos nossos livros! As palavras precisam de corpo! Os nossos livros precisam de ter vida!"

Daniel Pennac