PRÓXIMA SESSÃO - 9 JANEIRO 2013
ABORDAGENS SOBRE O
AMOR
Amor?!
Nada mais que uma palavra simples.
Nada
mais que tudo é.
Sem
sujeito ou predicado. Digna pela sua suprema simplicidade.
Mas,
afinal como se define esta palavra? Que sentido se lhe pode atribuir?
Tantos
que o idealizaram; que o idolatraram; que em “seu nome” em vão morreram; que
por amor ou amar viveram.
Tantas
formas de amar o amor!
Tantas
maneiras de falar de amor!
Esta
é mais uma.
O Amor Através
dos Tempos (na arte, literatura e poesia)
Qualquer
género de arte é amor. O artista; cujo objecto final, de um qualquer material,
para um fim último ou nenhum; utiliza o amor como suporte para a construção dos
seus trabalhos. O artista – foi, é e sempre será – um “mini-deus”, pois materializa
o amor em objecto. Permite-nos ver, tocar, cheirar, ouvir (e sentir) o amor…
pelo menos, aquilo em que ele próprio acredita ser a sua definição de amor.
Pode até ser abismal, sem noção de ser, louco ou agressivo; mas, ainda assim,
conseguir corporizar esta ideia do que é o amor. O ideal de beleza e toda a
ideia de perfeição. Seja o corpo, pura e simples, como ele foi concebido. Ou, a
natureza; ou, ainda, da natureza conseguir retirar a sua inspiração. Até um
objecto inerte pode ser sinónimo de amor.
(Amor,
uma palavra deveras banalizada e desvanecida entre os povos…)
O
artista, só por si, é amor. Porque afinal, o amor não é um objecto, não é uma
relação entre ele próprio e a coisa mas, entre ele próprio e todos em redor. O
amor na arte é o amor-próprio, o amor do próprio para com os outros, ou o amor
ou desamor dos outros para com o próprio. E, o amor platónico? A esse o
colocamos num pedestal e o adoramos no dia-a-dia.
Platão,
Dante, Shakespeare, Camões, muitos outros, cantaram sem cantar o amor.
O amor,
aquela estranha forma de querer outro. Dos amores e desamores, de amores
encantados e novelas enredadas. Do muito que se quer sem tão pouco se conhecer.
Pelo menos, foi assim em tempos. As mais belas cartas de amor disso são
exemplo.
O
poeta sempre viu o amor e sempre o viveu com intensidade. Definindo-o nas mais
diferentes formas, porque também ele é um sonhador, um “aluado”, sempre de
enamorado amor, evocando poeticamente o ocaso, a fim de vislumbrar a luz do dia
seguinte.
Citando
Percy Bysshe Shelley “a poesia é, na verdade, algo divino”.
Dessa
forma, se a arte é amor; se o divino é amor, a poesia também o é. Assim, se
pode considerar que todas as formas de arte são amor. Resultado de um estado de
espírito inebriado; o amor é um estar embevecido de alma. Sem se conseguir
tocar… é abstracto!
Regressa-se,
então, à questão principal e que aqui se coloca: como definir o amor?
Qual
o verdadeiro significado e sentido do verbo?
Ao
nascer, nada me garante que recebemos o amor materno e o iremos manter para sempre,
porque muito facilmente perdemos esse tão belo jeito de amar, natural,
verdadeiro, maternal, que nos foi oferecido e, por vezes, incompreendido.
O Amor Materno
Tudo
é menos perante o amor de uma mãe.
Falo
do que recebi e, dessa experiência, confirmo o absoluto e infinito poder do
amor. Porque do que recebi, aprendi a dividir com outros. A doar e a doar-me
aos que me rodeiam… com uma palavra, um pequeno gesto, um sorriso, uma carícia
ou um abraço… uma acção.
É a
partir deste “tipo” de amor (digo tipo, porque o amor é idêntico na sua forma;
o que muda é que cada qual o sente e o transmite tendo em conta as suas
certezas), que iniciamos um caminho ou percorremos por uma estrada, na qual
iremos dar e receber amor.
Posso
referir que o amor materno, ou a falta dele, é o que nos molda o ser; mas
acredito que em determinada altura da nossa vida podemos optar por escolher
amar.
Se
o amor materno é o mais verdadeiro, enquanto criança aproximamo-nos de um
sentir o amor em que a ingenuidade e a sinceridade prevalecem.
O Amor de Criança
Assim
se demonstra na afirmação seguinte, em que a definição, só por si, nos
transmite simplicidade.
“Tenho
um sentimento de coração por uma menina.” (GUI, 7 anos, 2010)
Esta
é a inocência e a forma mais singela do amor. A isto somente poderemos sorrir e
desejar que tudo fosse tão certo como isto. As crianças são uma esponja,
absorvem tudo o que os adultos fazem ao seu redor e essa simplicidade pode
perder-se se o adulto deixar.
É
aqui que se deve actuar permitindo manter essa simplicidade de ver o mundo à
nossa volta, tendo em conta a personalidade dela própria. O amor que lhe
passamos e a forma como o fazemos são os pilares para saber amar.
O Amor Adolescente
Já
na fase do namoro, ou namorico, cortejam-se as meninas. Sempre se cortejaram.
Esse galanteio mantém-se, para além da evolução dos tempos, das tecnologias, da
emancipação da mulher e absolvição dos sexos. Sejam; as meninas a lisonjear os
rapazes, ou, os rapazes a cortejar os rapazes, ou as raparigas a namorar as
raparigas; o que se verifica é que os antigos piropos e insinuações são agora
ultrapassados por mensagens de texto, pela internet ou o telemóvel, em que os
códigos utilizados banalizam e fazem perder a tão frase complexa e difícil de
pronunciar – gosto de ti – dos tempos passados. Hoje, diz-se amo-te com
frequência, sem certeza, sem sentimento, como se o amor fosse somente uma
palavra.
É
neste sentido que o amor e o amar acabam por ter uma conotação distinta da que
na realidade se pretende ou se lhe faz jus, que é o respeito pelo outro, a
aceitação das suas diferenças. Ao compreender, aceitamos; ao aceitar, amamos.
Ao saber amar, amamos o mundo inteiro.
O
namoro não é uma espécie de sentimento de pertença, de posse; de algo que é de
outro, e que pode levar a uma possessividade e incompreensão do conceito. À
obsessão do querer, perde-se na totalidade tudo o que antes referi, sem
respeito pelo amor, consideração pelo querer do outro e, por si próprio. Deixa
de ser namoro, perdendo-se como conhecimento e partilha de emoções e
sentimentos, apenas se chamando no calão de “curte”, “de andar”, “de passar o
tempo”.
Continuo
pois, a achar, que o papel do adulto e da família é a base para um crescimento
saudável, a todos os níveis, e o conceito e a vivência do amor pode, de facto,
fazer a diferença.
O Amor e a Família
Alterou-se
a noção de família, como se alteraram todas as formas de conhecimento, não
estivéssemos nós na era das tecnologias.
Alterou-se
para melhor, para pior? Não sei e não me cabe a mim decidir isso. O que sei e
continuo a referir neste texto é tudo o que me é pessoal, as minhas convicções
e ideologias e de que maneira vivo o amor.
Por
isso, conto-vos uma pequena história. Todos somos mortais, fisicamente
limitados, pelo que mais tarde ou mais cedo, o nosso corpo perece. Que tem isso
a ver com amor? Em absoluto, tudo! Quando perecemos; não é a morbidez da morte,
ou o sofrimento dos outros, ou, ainda, o último adeus e a despedida; que nos
levam a velar o corpo (até porque isso é uma prática antiga e as suas origens a
justificam). O que tento salientar é o sentimento de união, o respeito por quem
está em sofrimento pela perda, a presença para os acompanhar neste momento.
Isso é amor! Nas famílias (algumas), continua presente.
Nesta
linha de pensamento afirmo, com a clara consciência, que o amor pode ser tudo
aquilo que entendermos como tal, desde que a minha liberdade não interfira com
a do outro.
Amor
pode ser tudo, bem como, tudo pode ser amor!
Dependerá
da forma como o sentirmos, de como nos foi transmitido e de como o passamos aos
que nos rodeiam.
Se
o aplicarmos junto dos outros, em sociedade, podemos não mudar o mundo, mas
mudaremos, algo, ao nosso redor. Vale a pena experimentar.
Como
reconhecer o amor nos tempos que correm?
Buscando
o conceito, sentindo, conhecendo, compreendendo e o aplicando, evitando que se
desvaneça no coração, sem o comparar ao que foi. Sem o procurar nas guerras e
ódios que duram desde sempre.
O
amor sempre foi amor em qualquer tempo e lugar.
O
que o distingue? Nada.
Porque
tudo é amor.
Carmen Ezequiel / 29 de Maio de 2010
lEiTuRa De PeRnAs PaRa O aR