quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O clube de leitura - CHEIROS


Deixe o corpo balançar

É sabido que toda variação que ocorre no nosso fluxo emocional interfere diretamente na respiração. Para manter a frequência e a qualidade da mesma e ainda ampliar a capacidade dos pulmões, você pode utilizar a técnica descrita a seguir: em pé e com os pés paralelos com distância de dois palmos entre eles, flexione ligeiramente as pernas e faça movimentos de rotação com o tronco e no próprio eixo. Mantenha os braços relaxados, balançando-os livremente de um lado para o outro, como se fossem as orelhas de um elefante que se abana.
A cabeça acompanha o movimento do tronco. Faça alguns ciclos sem acelerar demais, depois vá cessando lentamente.
Além de ser muito agradável você aumenta a elasticidade pulmonar e diafragmática, e descontrai a musculatura costal.


Foi desta forma que iniciamos a nossa sessão,em que a descontração e consciencialização do corpo nos facilita a uma leitura dinâmica e mais natural. Assim, como as crianças que na sua simplicidade se deixam ir sem medo ou questionar.




LIVRO DO DIA

A Vanessa falou-nos de Gabriel Garcia Márquez e o livro Do Amor e Outros Demónios. A sua primeira leitura deste Nobel da Literatura e que a fascinou desde então.
Fica aqui a sinopse da contra capa do livro.

Do amor e outros demônios vem assim de uma inspiração de quase meio século. Mas sua história vai além. García Márquez viaja até fins do século XVIII, em pleno vice-reinado da Colômbia, esta ainda uma colônia da Espanha, para compor uma história de amor, cercada de sortilégio e feitiçaria, culminando num processo instaurado pela Inquisição. Mais uma vez um tema eternizado na literatura mundial - um dos desejos que elege as paixões e atinge as raízes mais profundas do ser humano: o amor.

Com um misto de religiosidade cristã e rituais africanos, a narrativa poética de García Márquez revela os laços que envolvem uma adolescente, filha única de um marquês, crescida no convívio de escravos e orixás, e um padre espanhol, incumbido de exorcizar os demônios que se acredita terem possuído a meninazinha, cujos cabelos jamais foram cortados em promessa atá a noite de seu casamento.

No cenário opressivo da sociedade colonial, do convento fantasmagórico, do manicômio de mulheres e da casa-grande em decadência, movem-se estranhas figuras dominadas por um cruel fanatismo -  o segundo marquês de Casalduero, dom Ygnacio de Alfaro y Dueñas; a marquesa, dona Olalla de Mendonza; Bernarda Cabrera; Dominga de Adviento; Abrenuncio... [...] Ao unir a jovem Sierva María de Todos los Ángeles e o padre Cayetano Delaura em momentos de terno sossego e ardente volúpia, o mestre do realismo fantástico cria uma história com a força e a pungência de um drama de nossos dias.

Uma pequena brincadeira permitiu-nos a todos termos a noção da velocidade com que, por vezes, se LÊ EM VOZ ALTA.


LEITURAS INDIVIDUAIS

 
O Perfume - A História de um Assassino, de Patrick Süskind 
A Perpétua e o Nuno leram-nos alguns excertos do romance

França, século XVIII. O recém-nascido Jean-Baptiste Grenouille é abandonado pela mãe junto a restos de peixes em um mercado parisiense. Rejeitado também pela natureza, que lhe negou o direito de exalar o cheiro característico dos seres humanos, pelas amas-de-leite e por instituições religiosas, o menino Grenouille cresce sobrevivendo ao repúdio, a acidentes e doenças. Ainda jovem descobre ser dotado de imensa sensibilidade olfativa e parte em busca da essência perfeita, do perfume que lhe falta para seduzir e dominar qualquer pessoa. Nessa busca obsessiva, ele usurpa a essência dos corpos de suas vítimas.


Perpétua

Nuno






















O Cheiro da Lembrança
Texto recolhido na internet pela Adília




"Eu só me recordo de bons perfumes, porque faço questão de manter só boas lembranças: do cheiro da infância, de certas estações do ano, de uma casa nova, do banho relaxante, de uma determinada planta, dos lençóis macios, de roupa lavada, do campo e das férias de verão.
Sou capaz de percorrer cada ambiente da casa com um aroma diferente: a lavanda remete-me à serenidade do quarto e transmite-me tranquilidade, já o pinho estimulante e refrescante é ideal para o banheiro, a lima, energizante e revitalizante escolho sempre para a sala e, para cozinha, reservo sempre os cheiros cítricos como os da laranja, lemongrass, manjericão, hortelã e alecrim.
Quem não gosta de entrar numa casa perfumada? Principalmente hoje, quando o mercado oferece opções que vão de um simples incenso, passam por difusores e velas, aos tradicionais pot-pourris."


Adília




Casamento Perfumado - de Alice Vieira
foi-nos lido pela Helena


Queria certa donzela,
de olfacto bem apurado,
que o seu casamento fosse,
Helena
de sempre o mais perfumado.
Seu nome era Rosa Branca,
Cravo Vermelho seu noivo,
madrinha, D. Açucena,
padrinho, o senhor D. Goivo.
Sua grinalda enfeitou,
com flores de laranjeira,
e na sua mão levou,
um ramo de erva cidreira.
Seus pajens, os Manjericos;
Violetas, suas aias,
seu pai, o senhor Junquilho,
Madressilva em lindas saias.
Veio dizer a cozinheira,
que ia tudo perfumar:
"trago salsa e hortelã,
para pôr no seu jantar.
Que belo aroma que dão,
a canela e o coco,
para perfumar os bolos,
Vou juntar vinho do Porto.
A bela Erva-Luísa,
veio para servir o chá,
como é toda perfumada,
que belo jeito me dá.
Diga-me lá D. Rosa,
se mais perfumes deseja.
Haverá um casamento,
que mais perfumado seja?



O Cheiro da Minha Casa - Laura Limp
a maravilha da poesia lida pela Fernanda

Fernanda

Minha casa tem muitos cheiros.
Cheiro de bolo de chocolate,
pão de queijo e café quentinhos.
Por que é casa de filhos, primos
E de amigos mui queridos.

Minha casa
tem cheiro de lembranças,
de infância e de flores.
De livros, discos,
incensos e amores.

Cheiro de tinta nos quadros
e de chulé nos sapatos.
Cheiro de dinossauros
e peixinhos no aquário.
De cinema na sala
e teatro no armário.


Minha casa é cheia de gente.
Gente que mora ou que visita.
Às vezes é circo,
Noutras hospício,
Sempre um porto.


Seguro, embora mutante.
Às vezes templo pagão
Noutras templo budista.

Quando é noite,
É lua cheia de vozes altas
Música e riso.
Tem cheiro de vinho e cigarro.
Tem cheiro de cerveja.
Tem cheiro de velas
de canela, rosas,
baunilha e camomila.

Quando é manhã clara
de sol e quietude,
tem cheiro de suco de laranja
nescau, morangos e iogurte.
Cheiro de cangote suado de filhos
e cheiro de banho tomado.
Cheiro de roupa colorida no varal
E cheiro de uniformes passados.

Minha casa tem o cheiro
de todos esses cheiros misturados.
Tem cheiro de vida em crescimento,
com direito a sustos, tombos e
rios de lágrimas corridos.
Mas tem também
cheiro de abraços apertados.
De beijos dados
e ainda outros beijinhos guardados.

Se minha casa cheira
À gente, comida, café,
arte, brinquedos, chulé,
vida e trabalho,
amor e amigos,


prantos e risos,
música, natureza
filmes antigos,
e ainda, quem diria,
tem o cheiro da chuva


e o da maresia...

Minha casa,
só podia ter mesmo,
esse cheiro de poesia.


O Perfumista - Joaquim Mestre
pela Sara


Um livro que se recorda como o perfume de quem se amou. Uma viagem perturbante ao Alentejo do início do século XX.
Um homem apaixona-se por uma mulher. Não pelos seus olhos, não pelos seus cabelos, mas pelo seu cheiro. É o perfumista de Almorim.
Quando na Europa deflagra a Iª Guerra Mundial, o homem integra o Corpo Expedicionário Português que vai combater na Flandres. Algum tempo depois chega a notícia de que morreu na Batalha de La Lys.
No entanto, um dia o barco da carreira que sobe o Guadiana traz um homem que diz ser o perfumista. A febre pnemónica tinha feito muitas vítimas: a mulher, os amigos, muitas pessoas da vila haviam morrido. Não fala com ninguém, fecha-se em casa a criar perfumes, cujos aromas enlouquecem as mulheres e os homens, alterando a vida de Almorim.



Sara




"Tu dizes que ela se deitou nas ervas em cima de umas sacas velhas e que sentiste os seus peitos nas tuas mãos, como se fossem frutos a medrar ao sol, o sabor acariciante dos seus lábios molhados a roçarem os teus, o abismo negro dos seus olhos a entrar dentro de ti.(...) Tu lembras-te de a ver nua, tremendo de frio, de loucura ou de desejo. Ela diz que não era frio, nem loucura, nem desejo. Era medo. Medo de te perder."









  Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley
excerto lido pelo António

O órgão dos perfumes tocava um Capricho das Ervas, deliciosamente fresco, harpejos saltitantes de tomilho e de alfazema, de alecrim, manjerico, murta e estragão - uma série de modulações audaciosas, passando por todos os tons das especiarias, até ao âmbar cinzento, e uma lenta marcha invertida, pelos bosques de sândalo, de cânfora, de cedro e de feno fresco ceifado (com tonalidades subtis, por momentos, e notas discordantes – uma baforada de pastel de rins, uma remota suspeita de estrume de porco), para regressar aos aromas simples com os quais a melodia tinha começado. O último acorde de tomilho desvaneceu-se; houve um ruído de aplausos e as luzes acenderam-se. Na máquina de música sintética, o cilindro de impressão sonora começou a girar. Ouviu-se um trio para hiperviolino, supervioloncelo e pseudo-oboé, que encheu então a atmosfera com a sua agradável languidez. Trinta a quarenta compassos, e depois, sobre esse fundo instrumental, uma voz bem mais que humana começou a vibrar; ora voz de garganta, ora voz de cabeça, ora sibilante como uma flauta, ora pesada de harmonias prenhes de desejo, passava sem esforço do registo de baixo de Gaspar Foster aos extremos limites dos sons musicais, até ao trinado agudo como o grito do morcego, muito acima do dó mais elevado que deu uma vez (em 1770, na ópera Ducal de Parma e perante o espanto de Mozart) Lucrezia Ajugari, única cantora que a história registou.
Comodamente instalados nas suas poltronas pneumáticas, Lenina e o Selvagem aspiravam e ouviam. Foi então a vez dos olhos e também da pele.
As luzes da sala apagaram-se; as letras chamejantes destacaram-se em relevo, como se se suspendessem, sozinhas na escuridão. 
TRÊS SEMANAS DE HELICÓPTERO. SUPERFILME CEM POR CENTO CANTANTE, FALADO SINTETICAMENTE, COLORIDO, ESTEREOSCÓPICO E PERCEPTIVEL, COM ACOMPANHAMENTO SINCRONIZADO DE ÓRGÃO DE PERFUMES.
- Ponha as mãos nesses botões metálicos que estão nos braços da sua poltrona - sussurrou Lenina -, pois sem isso não sentirá nenhum dos efeitos do perceptível.
O Selvagem fez o que lhe foi indicado. Aquelas letras chamejantes tinham entretanto desaparecido; houve dez segundos de completa escuridão. Depois, repentinamente, deslumbrantes e parecendo incomparavelmente mais sólidas do que teriam sido em autêntica carne e osso, bem mais reais que a realidade, eis que surgiram as imagens estereoscópicas de um negro gigantesco e de uma rapariga braquicéfala Beta-Mais, de cabelos dourados, estreitamente abraçados. O Selvagem sobressaltou-se.
Esta sensação nos seus lábios! Ergueu a mão para a levar à boca; o leve roçar dos lábios cessou; voltou a pousar a mão no botão metálico; a sensação recomeçou. O órgão de perfumes, entretanto, exalava almíscar puro. Em tom expirante uma superpomba de cilindro sonoro arrulhou: "U-uh". Efectuando apenas trinta e duas vibrações por segundo, uma voz de baixo, mais que africana pela profundidade, respondeu: "Aa-aah! U-ah! Uh-ah!", os lábios estereoscópicos voltaram a juntar-se e de novo as zonas erotogéneas faciais dos seis mil espectadores do Alhambra titilaram com um prazer galvânico quase intolerável. «Uh ... »



António






Admirável Mundo Novo






















Vambora - Adriana Calcanhoto 
O Luís não nos cantou, mas leu-nos o poema da música que podemos ouvir aqui

VAMBORA 



Luís




O Amor nos Tempos de Cólera - Gabriel Garcia Márquez
Excerto do livro pela Luísa

 
Luísa


  



Faro por uma história - Frank Brennan
tradução e adaptação pela Teresa

Teresa


























Cheiros - Márcia Balsas
texto da sua autoria



Tema fácil. Foi o que pensei quando soube o tema para mais uma sessão do Clube de Leitura. Há com certeza muitos livros de onde posso retirar excertos adequados.
Pensei em “O Perfume” de Patrick Süskind, um dos livros que mais estimulam a mente através do nariz, não necessariamente pelo lado mais agradável, mas achei que não seria a única a pensar nisso. E desisti.
Pensei em livros de viagens, pelos odores diferentes que os novos ambientes nos fazem sentir; lembrei-me da Ásia, com flores e plantas exóticas, com cheiros tão diferentes que, até hoje, só senti através de descrições.
Adoro comer. Inevitavelmente pensei em livros de culinária. Descrever uma receita talvez? Deixar o grupo a salivar imaginando o cheirinho das mais apetitosas iguarias?
Depois surgiu-me. Do nada. Como se fosse óbvio e devesse ter pensado logo neles. Nos livros. No cheiro dos livros.
Nada se compara ao cheiro de um livro novo. Quando se abre pela primeira vez e as folhas fazem aquele barulhinho a separar-se. Inevitavelmente encosto ao ouvido e aprecio. Ao mesmo tempo deixo que se liberte o cheiro característico, fecho os olhos e imagino folhas contínuas de livros na gráfica, a guilhotina, o produto final. O livro. Novo.
O cheiro dos livros usados ou mesmo velhos não é menos admirável. Transmite a história das mãos por onde passaram, dos olhos que os leram, das estantes que habitaram, das casas onde viveram. Observadores de vidas, de discussões a cenas de amor, presentes nas casas de família ou no T0 de um leitor solitário. Mais uma vez fecho os olhos, respiro fundo, e imagino o caminho percorrido por um livro, e os percursos de entretenimento que as suas palavras proporcionaram.
Agora fico triste. Por pensar que podem deixar de existir livros e que não posso cheirar um e-book. Que bom que é deixar de ter problemas de espaço físico para os arrumar, ou deixar de ter dores nas costas por os carregar para todo lado. Mas que falta faz deixar de sonhar através do cheiro. Do cheiro dos livros.

21 de novembro de 2012


Márcia



Lusco-fusco - de Cristina Carvalho
lido pela Carmen


A fada do olfato
Deu-me outras qualidades da mateira como o cheiro que existe no ar, nos corpos, o cheiro que me faz distinguir-te de outra pessoa, o cheiro dos nascimentos e de tudo o que desaparece para sempre, para nunca mais voltar.
Os melhores cheiros do mundo, aconselhados por esta fada, são estes,
O cheiro do mar
Quem nunca cheirou o ar do mar em dias de nevoeiro, quando a terra se confunde com a água, quando tudo é uma massa cinzenta e há um chão duro de areia molhada gravado com pequenos sinais? São as marcas das patas de aves marinhas e eu sigo esses sinais que conduzem às rochas rasteiras, esconderijo de camarões e de pequenos polvos, de estrelas-do-mar, de musgos que me acenam com grandes cabeleiras verdes. Eu, sem ver nada, porque a neblina espessa da manhã tudo esconde, chego até aqui só pelo cheiro. Sigo o cheiro, entro na água e saio da água, batizada já. Sozinha.
O cheiro da chuva na terra
Inexplicável cheiro. Traz ao de cima todos os bons sentimentos, a amizade, o amor, a paciência, a curiosidade, a fantasia.
Dessa terra molhada saem agora, depois da chuva, variadas espécies de bichinhos trementes, fugidios e atarefados, uns pretos, outros verdes, um ou outro avermelhado. O musgo aparece e depois, muito mais tarde, vem o Sol que tudo aquece e tudo volta ao princípio.
O cheiro das cidades
e da vida nas cidades, da transpiração de quem corre, das ruas com movimentos de gente, para cima, para baixo, apressadamente; cheiro estranho de estranha beleza, de riqueza e de miséria, cheiro das mulheres que passam, bem bonitas, rua abaixo, cheiro dos homens que cheiram as mulheres que passam, bem bonitas, rua abaixo; o cheiro das crianças da cidade, que é um cheiro diferente das crianças doutros sítios; cheiro da minha cidade em todos os meses do ano e no verão, quando o rio me chama, se torna transparente e doce para me receber e o seu cheiro a entontecer, a puxar e a arrastar, entoando as mais belas canções da água. Há também alguns cheiros indefinidos. Eu não sei de onde vêm, mas atravessam todo o espaço do ar desta cidade como uma espiral voluptuosa.
O teu cheiro
O teu próprio cheiro, Viktor, quero fixá-lo para todo o sempre. Mesmo sendo eu uma figura que não existe e tu também, movemo-nos no mesmo espaço e falamos, rimos e brincamos e é necessário conhecermo-nos muito, muito bem a ponto de reconhecermos as nossas qualidades e os nossos defeitos – que os temos! É preciso distinguirmo-nos de outros seres imaginados e para tal temos de conhecer o nosso cheiro, esse cheiro que nos foi dado quando, pela primeira vez, visitámos este sítio.
Cheiras a chão e terras e águas e pós e a ervas e humidades duma noite do deserto. Cheiras a mundo. Cheiras a nada. E, no entanto, conheço-te à distância, desde que nasceste com os teus diferentes cheiros – os primeiros, o cheiro das babas da intimidade mais profunda, daquela intimidade que mais ninguém alcança, ou seja, o cheiro íntimo das mulheres que te fizeram nascer e ainda o cheiro do teu crescimento, das tuas primitivas e incendiárias vidas, ah! cheiros dos cheiros em que tudo explode e cheira a explosões e cheiras ainda a tudo, mesmo a tudo enquanto vais percorrendo a vida e eu, sempre atrás de ti, do teu rasto, até te reconhecer, finalmente, numa cama de pó e cinzas sem qualquer vestígio do que um dia foste, do cheiro da vida que um dia tiveste.


Uma foto de grupo





LeItUrA de PeRnAs para o Ar


 O cheiro determina a atração sexual


Rita Abundancia | 11 de novembro de 2012 | El País (www.elpais.com)
Tradução: Vanessa Contumélias

O cheiro masculino determina a atração sexual?

Um jovem atrativo arranja-se para sair num sábado. Faz a barba, penteia-se e escolhe o vestuário. Noutra casa, alguém menos agraciado prepara-se e perfuma-se. Mais tarde, encontram-se numa discoteca. O mais bonito apoia-se no balcão e bebe um gin tónico; o mais feio dança acompanhado. O segredo está na fragrância, cujo frasco aparece no final do anúncio. Até agora relacionar aromas com libido servia para vender, mas estudos recentes sobre as feromonas –substâncias presentes no cheiro corporal, sobre tudo dos homens- levam a pensar que o instinto animal desempenha um papel muito mais importante.

A neurologista Denise Chen e a sua equipa da Universidade Rice de Houston realizaram há pouco tempo uma experiência com homens heterossexuais. Todos substituíram o desodorizante por adesivos. Um grupo viu porno; outro não. Depois, várias mulheres cheiraram os adesivos; algumas áreas dos seus cérebros ativaram-se, mas só nos casos dos adesivos dos homens sexualmente excitados. “Os humanos comunicam de forma inconsciente através de sinais químicos. O homem emite através do suor substâncias que ajudam a mulher a saber se está interessado nela ou não”, explica Chen.

Os resultados de um estudo recente da Universidade de Sheffield são muito mais inquietantes. O seu título é “Pode a pílula anticonceptiva alterar a escolha de parceiro nos humanos?”. A resposta parece ser positiva. As mulheres não grávidas preferem o cheiro de homens com um ADN diferente. A razão é evolutiva: é um impulso inconsciente para evitar problemas genéticos. No entanto, quando estão grávidas preferem um ADN semelhante. O dilema surge quando uma mulher toma a pílula, suprime a ovulação e engana o corpo e fá-lo pensar que está grávida. O que acontece se conhece um homem com um ADN semelhante, casa-se, suspende o tratamento com a pílula e os seus gostos mudam? Segundo as conclusões deste estudo ela poderia deixar de desejar o seu parceiro.

A ginecologista Paloma Andrés não partilha este determinismo químico. “O olfato muda nas grávidas, mas não creio que a pílula tenha efeitos tão graves. Ao suprimir a ovulação, perde-se a faceta cíclica mas os humanos são os animais que menos feromonas têm”, explica Andrés. Y continua “No nosso caso, a vista é mais importante que o olfato”.

Os cientistas não negam a existências das feromonas, mas discutem o seu protagonismo. O naturalista Jean-Henri Fabre descobriu-as em 1870 ao ver que traças masculinas voavam milhares de quilómetros guiadas pelo cheiro, para visitar as fêmeas. “Nenhum estudo científico rigoroso isolou e determinou uma feromona a partir de secreções humanas. Além disso, a reação a essas substâncias não pode causar o mesmo tipo de resposta involuntária em humanos e em animais já que no homem estará também determinada por outros fatores como a experiência, o contexto ou os estímulos sensoriais” insiste George Preti, químico e membro do grupo de investigadores do Monell Chemical Senses Center de Filadelfia. A sua equipa repetiu há pouco a experiência dos adesivos. Os seus resultados: determinadas substâncias (ainda não sabem quais) presentes no suor do homem podem alterar a fertilidade e a disposição da mulher. Segundo outro estudo da Universidade de Berkeley, alguns componentes do suor como a andros//tenediona diminuem o cortisol, responsável pelo stress e aumentam os efeitos da oxitocina, a hormona do amor.

“As investigações científicas fazem-se com concentrações elevadas, muito superiores às reais. Ainda falta demonstrar que as feromonas humanas excitam subliminarmente” afirma o perfumista Daniel Josier. “O cheiro é um fator erótico, mas não o único; faltam os sociais e a personalidade. A química limita-se a potenciar a atração. Se não fosse assim, não existiriam os sexólogos. O ser humano é muito mais complicado. 





Para terminar a Carmen trouxe-nos um exercício de consoantes para nos divertirmos com as palavras.










 










quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O clube de leitura - HONESTIDADE

O Silêncio que Transcende as Palavras

Há uma altura na vida do paciente em que a dor cessa, em que a mente entra num estado onírico, em que a necessidade de alimentos se torna mínima e em que a consciência quase desaparece na escuridão. É a altura em que os familiares andam de um lado para o outro nos corredores do hospital, atormentados pela espera, sem saber se devem sair para cuidar dos vivos ou ficar por perto no momento da morte. 
(...)
É a altura para a terapia do silêncio com o paciente, e para manifestar disponibilidade aos familiares.
Ser terapeuta de um paciente terminal faz-nos ter consciência da singularidade de cada indivíduo neste vasto mar da humanidade. Lembra-nos da nossa natureza finita, no nosso tempo de vida limitado. Poucos somos os que vivemos mais de setenta anos e, ainda assim, neste período de tempo tão breve, a maioria de nós cria e vive uma biografia única e entrelaça a sua vida no tecido da história humana.

Acolher a morte (On Death and Dying), Elisabeth Kübler-Ross

Texto de abertura por Carmen Ezequiel - A honestidade em fim de vida

LIVRO DO DIA


Márcia

LIVRO DO DIA




















Aqui fica o link que acede ao seu blogue Planeta Márcia, onde nos seduz para a leitura deste romance, com um texto da sua autoria.

Planeta Márcia 



LeItUrA de PeRnAs para o aR




Agostinha
 


A Agostinha trouxe-nos uma crónica de António Lobo Antunes.
Aqui fica o texto integral.

A Propósito de Ti

"Somos felizes. Acabámos de pagar a casa em Outubro, fechámos a marquise, substituímos a alcatifa por tacos, nenhum de nós foi despedido, as prestações do Opel estão no fim. Somos felizes: preferimos a mesma novela, nunca discutimos por causa do comando, quando compras a «TV Guia» sublinhas a encarnado os programas que me interessam, lembras-te sempre da hora daquela série policial que eu gosto tanto, com o preto cheio de anéis a dar cabo dos Italianos da Máfia.
Somos felizes: aos domingos vamos ao Feijó visitar a tua mãe, ficas a conversar com ela na cozinha e eu passeio com o Indiano, filho de uma senhora que mora lá no pátio; assistimos ao básquete dos sobrinhos dele no pavilhão polivalente, comemos uma salada de polvo no café durante os resumos do futebol, e voltamos para Almada à noite, com o jantar que atua mãe nos deu numa marmita embrulhada no «Record», a tempo de assistir às perguntas sobre «factos e personalidades» do concurso em que a apresentadora se parece com a tua prima Beatriz, a que montou um pronto-a-vestir no centro comercial do Prior Velho.
Somos felizes. A prova de que somos felizes é que comprámos o cão no mês passado e foi por causa do cão que tirámos a alcatifa, que as unhas do animalzinho rasparam de tal forma que já se notava o cimento do construtor por baixo. Andamos a ensiná-lo a não estragar as cortinas, pusemos-lhe uma coleira contra as pulgas depois de uma semana inteira a coçarmo-nos sem entender porquê, passados dois dias o Fernando começou a coçar-se também e a acusar-me de cheirar a cachorro e levar pulgas para a repartição, o chefe avisou-me do fundo
- Veja-me lá isso, Antunes
de modo que pus também uma coleira contra as pulgas debaixo da camisa e o Dionísio, espantado
- Deste em cónego ou quê?
E eu, envergonhado, a abotoar o colarinho
- É uma coisa chinesa para o reumatismo, a Jóia Magnética Vitafor é uma porcaria ao pé disto e como nas Finanças se respeitam o reumatismo e as coisas chinesas, nunca mais me maçaram.
Às segundas, quartas e sextas sou eu que vou lá abaixo levar o cão a fazer chichi contra a palmeira, às terças, quintas e sábados é a tua vez, e o que não vai lá abaixo fica à janela a olhar o bichinho a cheirar os pneus dos automóveis, com um ar sério de quem resolve problemas de palavras cruzadas que os cães têm sempre que farejam postes e Unos.
Somos felizes. Por isso não me preocupei no Sábado com o animal, muito entretido na praceta, e tu atrás dele, de trela enrolada na mão, sem olhares para cima nem dizeres adeus, a nadares devagarinho até desapareceres na travessa para a estação dos barcos. Foi anteontem. Às onze horas tirei o cozido do forno e comi sozinho. Ontem também. Hoje também. Não levaste roupa, nem pinturas, nem a fotografia do teu pai, nada.
Ainda há bocadinho acabei de gravar o episódio da novela para ti. A tua mãe telefonou, a saber porque é que não fomos ao Feijó, e eu disse-lhe que daqui a nada lhe ligavas. Porque tenho a certeza de que tu não te foste embora, visto sermos felizes. Tão felizes que um dia destes vou comprar um micro-ondas para, se chegares a casa, teres a comida quente à tua espera."


Luís


O Luís leu um conto de Hans Christian Andersen:



A Princesa e a Ervilha







Adília



Uma maravilhosa fábula para refletir.


Sara

A Sara trouxe-nos vários textos sobre o tema, os quais formaram a Honestidade Intelectual.



Honestidade intelectual
  

A honestidade intelectual é uma atitude que significa, de modo geral, a honestidade na aquisição, na análise e na transmissão de ideias.
Uma pessoa honesta intelectualmente:
  • Não exagera a força dos seus argumentos, reconhecendo que não há argumentos perfeitos. Quaisquer que estes sejam têm, geralmente, também alguns pontos fracos;
  • Demonstra a disposição de aceitar a existência de teses diferentes ou opostas à sua, também justificáveis racionalmente; embora uma pessoa possa pensar que a sua tese é melhor do que a dos outros, é necessário reconhecer que outras teses são possíveis e dignas de discussão;
  • Demonstra a disposição de aceitar discutir as suas próprias teses, os seus pressupostos e os seus princípios; se uma pessoa não aceita discutir a sua própria perspetiva, não tem o direito de exigir que a do outro seja discutida;
  • Admite as possíveis fraquezas apontadas pelos outros; se a pessoa não é capaz de aceitar a existência de eventuais pontos fracos na sua argumentação, então não quer realmente debater o assunto em questão: quer somente impor ao outro a sua tese;
  • Aceita a possibilidade de estar errada; 
  • Reconhece quando um argumento ou uma crítica do outro fazem sentido e são oportunos; se a pessoa não consegue aceitar quando o outro apresenta um bom argumento ou uma crítica procedente, mostra que não está preparada para um debate sério;
  • Aceita as consequências das teses que defende até à última instância e com rigor; 
  • Não simplifica, não distorce, nem ridiculariza o argumento do outro; 
  • Cita fontes e respeita a propriedade intelectual;
  • E, principalmente, argumenta contra a tese ou o argumento do outro, mas não contra a pessoa do outro!


Reescrito e adaptado por Sara Loureiro, a partir do texto “A honestidade intelectual e a filosofia”, publicado em http://oficinadefilosofia.wordpress.com





As Farpas

O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: o país está perdido!”
Eça de Queiroz


Vaticano: Papa pede honestidade e integridade aos políticos

Pedro Passos Coelho - Vendedor de automóveis

Maria Perpétua

de Luís Vaz de Camões, in Sonetos



Lágrimas de Honesta Piedade e Imortal Contentamento
Amor, que o gesto humano na alma escreve,
Vivas faíscas me mostrou um dia,
Donde um puro cristal se derretia
Por entre vivas rosas a alva neve.

A vista, que em si mesma não se atreve,
Por se certificar do que ali via,
Foi convertida em fonte, que fazia
A dor ao sofrimento doce e leve.

Jura Amor, que brandura de vontade
Causa o primeiro efeito; o pensamento
Endoidece, se cuida que é verdade.

Olhai como Amor gera, em um momento,
De lágrimas de honesta piedade
Lágrimas de imortal contentamento.



Vanessa



Manifesto Anti Dantas – Almada Negreiros (Adaptação)

Basta pum basta!!!

Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi. É um coio d'indigentes, d'indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!

Abaixo a geração!

Morra o Dantas, morra! Pim!

Uma geração com um Dantas a cavalo é um burro impotente!

Uma geração com um Dantas ao leme é uma canoa em seco!

O Dantas é um cigano!  O Dantas é meio cigano!

O Dantas saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina, saberá fazer ceias pra cardeais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz!

O Dantas pesca tanto de poesia que até faz sonetos com ligas de duquesas!

O Dantas é um habilidoso!

O Dantas veste-se mal!

O Dantas usa ceroulas de malha!

O Dantas especula e inocula os concubinos!

O Dantas é Dantas!

O Dantas é Júlio!

Morra o Dantas, morra! Pim!

O Dantas fez uma soror Mariana que tanto o podia ser como a soror Inês ou a Inês de Castro, ou a Leonor Teles, ou o Mestre d'Avis, ou a Dona Constança, ou a Nau Catrineta, ou a Maria Rapaz!

E o Dantas teve claque! E o Dantas teve palmas! E o Dantas agradeceu!

O Dantas é um ciganão!

Não é preciso ir pró Rossio pra se ser pantomineiro, basta ser-se pantomineiro!

Não é preciso disfarçar-se pra se ser salteador, basta escrever como o Dantas! Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões! Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, e usar coco e olhos meigos! Basta ser Judas! Basta ser Dantas!

Morra o Dantas, morra! Pim!

O Dantas nasceu para provar que nem todos os que escrevem sabem escrever!

O Dantas é um autómato que deita pra fora o que a gente já sabe o que vai sair... Mas é preciso deitar dinheiro!

O Dantas é um soneto dele-próprio!

O Dantas em génio nem chega a pólvora seca e em talento é pim-pam-pum.

O Dantas nu é horroroso!

O Dantas cheira mal da boca!

Morra o Dantas, morra! Pim!

O Dantas é o escárnio da consciência!

Se o Dantas é português eu quero ser espanhol!

O Dantas é a vergonha da intelectualidade portuguesa!

O Dantas é a meta da decadência mental!

E ainda há quem não core quando diz admirar o Dantas!

E ainda há quem lhe estenda a mão! E quem lhe lave a roupa!

E quem tenha dó do Dantas!

E ainda há quem duvide que o Dantas não vale nada, e que não sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem zero!


Continue o senhor Dantas a escrever assim que há-de ganhar muito com o Alcufurado e há-de ver que ainda apanha uma estátua de prata por um ourives do Porto, e uma exposição das maquetes pró seu monumento erecto por subscrição nacional do "Século" a favor dos feridos da guerra, e a Praça de Camões mudada em Praça Dr. Júlio Dantas, e com festas da cidade plos aniversários, e sabonetes em conta "Júlio Dantas" e pasta Dantas prós dentes, e graxa Dantas prás botas e Niveína Dantas, e comprimidos Dantas, e autoclismos Dantas e Dantas, Dantas, Dantas, Dantas... E limonadas Dantas- Magnésia.

E fique sabendo o Dantas que se um dia houver justiça em Portugal todo o mundo saberá que o autor de Os Lusíadas é o Dantas que num rasgo memorável de modéstia só consentiu a glória do seu pseudónimo Camões.

E fique sabendo o Dantas que se todos fossem como eu, haveria tais munições de manguitos que levariam dois séculos a gastar.

Mas julgais que nisto se resume literatura portuguesa? Não Mil vezes não!

Temos, além disto o Chianca que já fez rimas prá Aljubarrota que deixou de ser a derrota dos Castelhanos pra ser a derrota do Chianca.


Morra o Dantas, morra! Pim!

Portugal que ... conseguiu a classificação do país mas atrasado da Europa e de todo o Mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O exílio dos degredados e dos indiferentes! A África reclusa dos europeus! O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a sua cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!

Morra o Dantas, morra! Pim!





A Márcia leu-nos um excerto do livro
Dali e Eu - Uma História Surreal
(aqui fica a sinopse)


Márcia
Durante mais de uma década, Stan Lauryssens amealhou uma fortuna na qualidade de negociante de obras de Salvador Dalí. Os quadros que vendia eram de proveniência duvidosa, mas em breve Stan descobriria que a mais duvidosa de todas era o próprio Dali. À medida que os anos passavam e ele se aproximava do círculo íntimo do pintor, os bastidores de um mundo onde comércio e conspiração andam lado a lado eram-lhe revelados - assim como os segredos que permitiam a Dalí manter o seu extravagante estilo de vida muito depois de a sua criatividade ter começado a esmorecer…




Graciete






Da voz da Graciete vieram as palavras do livro
A Primeira Esposa, de Françoise Chandernagor.

















No final, e na voz de António Aleixo
as emoções sentimos,
as que eram e não eram,
as fingidas ou fugidas,
aquelas que nos deram
a todos muita alegria.











Quando não tenhas à mão
MEDOOutro livro mais distinto,
Lê estes versos que são
Filhos das mágoas que sinto.


Sei que pareço um ladrão…
RAIVAMas há muitos que eu conheço
Que, sem parecer o que são,
São aquilo que eu pareço.


Sou humilde, sou modesto;
Mas, entre gente ilustrada,
ALEGRIATalvez me digam que eu presto,
Porque não presto pra nada.


TRISTEZAMEDOEu não tenho vistas largas,
Nem grande sabedoria,
Mas dão-me as horas amargas
Lições de filosofia.
 

Tu não tens valor nenhum,
Andas debaixo dos pés,
AGRESSIVIDADEAté que apareça algum
Doutor que diga quem és.

Lê-se um livro com carinho
AFLIÇÃOE, ao deixá-lo, a visão passa;
E ninguém segue o caminho
Que a moral dos livros traça.


Nem as orações sublimes,
Nem as palavras suaves,
AMOR
Alcançam perdão p’ros crimes,
Quando eles são crimes graves.


Não odiemos aqueles
CONFUSÃOQue aplaudem quem nos condena;
Tenhamos só pena deles
Porque são dignos de pena.


Goza mais um desgraçado
HUMORNum dia de felicidade,
Do que qualquer abastado
Gozando uma eternidade.


Há também meninos fúteis
Que pregam moralidade,
INVEJAQuando, a meu ver, os mais úteis
Não têm futilidade.

Há tão pouca coisa boa,
EGOÍSMOTanta má por boa escrita,
Que quando o bem se apregoa
Quase ninguém acredita.


É tão engraçada a vida…
ORGULHOSem que a gente a veja assim,
Volta ao ponto da partida,
Quando está perto do fim.