quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O Clube de Leitura - Próxima Sessão


Próxima Sessão - 6 de Fevereiro




lEiTuRa De PeRnAs PaRa O aR


Luís Correia


(Leitura de textos poéticos sobre o tema e em tempo de Carnaval... mascarar...mascarar)

O Clube de Leitura - HUMOR

"Ludus est necessarius ad conversationem humanae vitae.” 

“O humor é necessário para a vida humana.” (S. Tomás de Aquino)


Falam os entendidos que "o humor é um estado de ânimo cuja intensidade representa o grau de disposição e de bem-estar psicológico e emocional de um indivíduo", in Wikipédia
A sessão de O Clube de Leitura iniciou com um momento de descontração para facilitar a leitura, permitindo que a voz se torne mais clara e eficaz, captando a atenção do ouvinte.



 


















LeItUrA dE pErNaS pArA o Ar


                     Após a descontração fomos agraciados pela Sara que nos ofereceu o chanoyu,
                                             a cerimônia do chá japonês.





Mais quentes e deliciados pelo aroma do chá, cada um assumiu um papel de humorista, e fez a leitura do tema escolhido.


Leituras Individuais



Como já vem sendo habitual o Luís fez as hóstias à casa 
e "foi" às Caldas buscar o Zé Povinho 


Ora toma!

Personagem intemporal, desalinhado em energia, na retórica e na postura, o Zé Povinho desenha-se no traço grosseiro da robustez que caricatura o nosso colectivo.

Rindo ou gesticulando em descaramentos, intervém ora vitimizando-se e submetendo-se, ora como alerta de consciências não libertas de preconceitos. Entre a boémia e o laicismo, a actualidade de Seu Zé Povinho não se esgota naquilo que configura a sua personalidade popular, pelo contrário transborda da tipificação para a excelência do pretexto que aponta ao comentário e à critica. Não poupando nada, nem ninguém, não se contém em sarcasmos perante os factos políticos sociais e institucionais.

A sua intervenção opinativa na vida do país revela-se miticamente como reflexo de desejos, sentimentos e necessidades que se descobrem pela praxis. Controversa e metafórica, a figura do Zé Povinho cresce na ambiguidade que se joga entre o cinismo social e a revolta genuína. Decorre da impotência que se denuncia no manguito e que exorciza com a sabedoria popular o acto de cruzar os braços.

De apelido Povinho, diminutivo de todos nós, Seu Zé nasce com respeito contraditório do que está para além de senhor (Seu) e do que está aquém do diminutivo dobrado (Zé e Povinho). Rapidamente se torna familiar perdendo o trato deferente e incorporando o todo das características tipificadoras das gentes portuguesas. Deformado e deformador impõe-se com o vigor que o eco da popularidade nacional lhe confere. Com argúcia desvenda a injustiça e o grotesco, mas é no entanto com paciência e submissão que digere o seu próprio destino.

Nasce com o 5º número da revista A Lanterna Mágica, de 12 de Junho de 1875.
Em 1879, com o lançamento do novo jornal O António Maria (Primeira Série), apesar de analfabeto, emerge com uma presença constante que ridiculariza os factos nacionais.
Luís
Zé Povinho espalha indiscriminadamente todo o seu fôlego satírico, ilustrando o catálogo da vida nacional, política e social, e das suas incongruências.
Com a consistência do ícone atravessa os periódicos que lhe dão vida ousando entre o arrojo e o fatalismo. Com os Pontos nos ii, o Zé mantém a pertinência da sua crítica, agora mais revestido de rebelião e aproximando-se dos ideais republicanos. Mas, também destes se ri. Da rebeldia das suas atitudes sobram indignações e pessimismo. Na Segunda Série de O António Maria mantém o enfoque certeiro que ridiculariza as conjunturas da instabilidade alimentada na crise política e económica. A censura que suspende a Paródia, dois anos após a morte do criador de Seu Zé, enterra um discurso em desenho, mas não a figura que ainda hoje representa a fatalidade de se ser português, melancolicamente sobrevivente.


Lido pela Agostinha 
O senhor SWEDENBORG e as investigações geométricas, de Gonçalo M. Tavares



Agostinha


A Adília seguiu a deixa anterior e leu
Miss Povo 2012, por Ricardo Araújo Pereira




Quando o ministro das Finanças anunciou que o povo português era o melhor do mundo, vários cidadãos caíram nos braços uns dos outros a chorar. Não é frequente Portugal ganhar galardões mundiais importantes, e por isso é natural que as pessoas se emocionem com uma distinção desta envergadura. Embora o regulamento do prémio permaneça desconhecido, toda a gente imagina a tramitação do processo que culminou com a eleição de Portugal: um júri, formado pelos mais prestigiados apreciadores de povos do mundo, avaliou a totalidade dos povos do planeta, desde os chineses aos bosquímanos do Sudoeste africano, e deliberou que o melhor povo do mundo era o português. A organização do concurso entregou um envelope com a decisão a Vítor Gaspar, a quem coube a honra de anunciar, em directo, o grande vencedor. Suecos, americanos, alemães, franceses e todos os outros povos do mundo ficaram a saber que têm de se esforçar um pouco mais. O melhor aglomerado de pessoas, a nível mundial, é aquele que tem nacionalidade portuguesa. Embrulhem.
Na verdade, o ministro disse mais: o povo português é o melhor povo do mundo e o maior activo de Portugal. Portanto, do ponto de vista económico, fazem todo o sentido os incentivos do Governo à emigração: qualquer país procura exportar o seu maior activo. Quando se diz que Portugal não é forte na produção de bens transaccionáveis, tal não é verdade. Produzimos povo muito bom (o melhor do mundo, aliás) e exportamo-lo cada vez mais. Não admira. Quem quer povo, em princípio, não se contenta com menos do que o melhor, e isso explica o apetite dos mercados internacionais pela nossa produção de gente.
Adília
No entanto, sem colocar em causa a nossa vitória no certame Miss Povo, gostaria de apelar a uma recontagem dos votos. Não duvido de que possamos ter ganho, não me interpretem mal. Mas acredito que é mais prováveis termos ganho numa daquelas categorias menores. Mais do que sermos um povo bom, somos um povo simpático, que se manifesta ordeiramente. Aguardamos o final do discurso do sr. Presidente da República para começar a gritar desesperadamente. E rematamos o protesto com canto lírico afinadíssimo, aplaudido por todos os presentes, antes de retomarem a sua vida. E ficam muito bem nas fotos, os nossos abraços aos agentes da polícia de intervenção. Talvez não tenhamos ganho o troféu Miss Povo. Mas as faixas de Miss Simpatia e Miss Fotogenia, ninguém nos tira.


E, embrulhem!




A Graciete, a Fernanda e a Helena leram:


Há doenças terríveis que nos afectam o físico e a alma. Não vamos falar dessas que o tema hoje é o humor.
Alguns de nós sofremos de maleitas crónicas que nos incomodam como, por exemplo, as alergias, as diarreias, as obstipações...
Mesmo quem não sofre destes males crónicos, uma vez por outra, lá vai a correr para o wc agarrado à barriga, ou lá vai o purgante! Estas maleitas só afectam directamente o pobre sofredor, mas existe uma maleita crónica que afecta terceiros.
A imbecilidade.
Todos, numa ou outra altura das nossas vidas já passámos por este padecimento, quase sempre na adolescência. Mas em alguns de nós este mal permanece para sempre.
Os poemas que vos vamos ler são a resposta, a única resposta, que uma de nós encontrou para responder à verborreia de uma imbecil.
E não é que este por um momento, breve é certo, ficou iluminado!
Ora, aqui vos apresentamos do “nosso querido” José Ary dos Santos…

Sones Detergium

Poligónica forma pró-dislate
ornitúrricaturra pró-falsete
sulfactídica amostra disparate
encefàlicoestèticorretrete

protossónico vate calafate
tripanado linfático filete
xadrezista charada chequemate
torniquete cacete cacetete

tartufácil engodo redundante
taralhoco barroco bipedante
apócrifo proscénio pró-toleima

leucocito bacilo obliterante
lexicólogo rícino purgante
pirotècnicotécnica almorreima.


O Espanador

Vade retro
vade recto
vá-se rectrodecantar
vate vidente concreto
do espaço por ocupar.
Vade retro
ante projecto
do poema circular
pousado como um insecto
nas sombras do intelecto
que ontem comeu ao jantar.
Vade retro
vá de metro
vá de burro passear
mas não leve o alfabeto
não se pode constipar.

Fernanda, Helena e Graciete


A Teresa trouxe-nos, em português, um excerto do livro
Como aprender inglês e deixar de armar em Índio, de Alicia Calle.



"TV set.
Switch the TV set into the locker, press button C and turn button B. Check lock before switching. Press button up/down. Setting on the clock..."

Ora, tomem lá!

"- Porra! Que faço?
Calma, calma, não se enerve. Já o tinha prevenido.
- Chinês, isto é chinês, Elisabete, e agora, como é que esta porra funciona? Hem? Porra, que merda!
E, ainda por cima, a sua mulher grita consigo:
- És tonto, Aníbal, essa é de caras. Mete-a na ficha e já está."

"Piii, Piii..."


 
Teresa


E, aparece a Luísa, com 
O Caso do Beco das Sardinheiras, de Mário de Carvalho. 

Descubram no link quem engoliu a lua.
Luísa


O Tombo da Lua



















A Fernanda leu-nos um texto da sua autoria, sobre o seu humor matinal e a forma como os outros o vêem.




Fernanda

Já a Sandra lembrou-nos

Natália Correia, na sequência da afirmação do deputado do CDS, João Morgado, em Abril de 1982, de que «o acto sexual é para fazer filhos», respondeu-lhe com o seguinte poema, provocando o riso em todas as bancadas parlamentares.
 
Sandra
Já que o coito – diz Morgado –
tem como fim cristalino,

preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou – parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o órgão – diz o ditado –
consumada essa excepção,

ficou capado o Morgado.






A Márcia aventurou-se pela velhice...
A Aventura da Velhice, Miguel Esteves Cardoso



Gosto muito de velhos. Os velhos são o nosso futuro. São um bocadinho malucos, mas isso tem graça. Irrita-me quando dizem que uma pessoa está “senil” só porque não corresponde ao que se espera dela. Quando eu for velho também quero ser senil. Hei-de chamar nomes horríveis, repetidamente aos funcionários, políticos e outros empregados empertigados que não me caírem no goto, no ouvido. Alto. Naquele cana-rachada irritante: “Ó seu grande monte de cocó de galinha, porque é que não trata as pessoas como deve ser?”
Na minha cabeça tenho uma listinha com os nomes e as moradas de todas as pessoas que mas hão-de pagar. Quando for velho e puder passar por xexé, sem medo de ser preso ou de levar pancada, hei-de divertir-me a vingar-me delas. Ser velho é a mesma coisa que ser Super-homem. Ninguém nos toca.
(…)
Os velhos e as velhas, sempre que podem, andam com raparigas e rapazes com um terço ou um quarto da idade deles. As pessoas ficam “horrorizadas”, acham “um nojo” e não sei que mais. Mas eu estou do lado dos velhos. Têm o mesmo direito dos outros, de fazer o que lhes apetecer deste que não façam mal a ninguém. Vão morrer e estão a aproveitar a vida que lhes resta – que mal é que isso tem? É perfeitamente saudável e natural que quem acaba rico e sozinho açambarque todas as raparigas e todos os rapazes que puder, esbanjando dinheiro a comprar-lhes prendas e diamantes. É que a velhice em si, ao contrário da juventude em si, só por si não compensa. Daí que faça todo o sentido compensá-la. Força!
Perguntem-me se eu fosse governante deste país, quanto dinheiro é que eu daria aos jovens portugueses. Perguntem-me como é que eu os apoiava, em atenção às dificuldades que enfrentam. Vá, perguntem-me. Nem um tuste. Eles que o ganhem. Os jovens acabam sempre por arranjar qualquer coisa. Está na natureza da vida que um jovem se safa quando cresce. Não. Eu daria o dinheiro que houvesse aos velhos. Para eles comprarem compact discs, cruzeiros, raparigas e rapazes – enfim, para eles estourarem. Há uma horrível forretice utilitária na maneira como os governantes dão “incentivos” aos jovens. Estão a “investir”. Não estão a pensar noutra coisa senão nos lucros sociais e económicos desse investimento.
Os velhos, em contrapartida, merecem ter os bolsos recheados de notas de cinco contos. Estão fartos de trabalhar e de viver. E a senilidade não sai barata. Não há visão mais feliz do que aquela (tão frequente na Inglaterra) de um autocarro cheio de velhas, com os cabelos azuis e lenços de plástico transparente nas cabeças, a caminho do salão do Bingo, segurando nas mãos a generosa reforma que se preparam para desbaratar. São totalmente irresponsáveis. E fazem muito bem. A vida está mal organizada. O melhor bocado deveria estar guardado para o fim.
Como o fim é o pior bocado de todos, com doenças e fraquezas e humilhações de todas as espécies, a sociedade deveria fazer tudo para torná-la na maior paródia possível.
Só um jovem é capaz de aguentar as condições miseráveis de um lar de terceira idade. Um velho precisa de um bom hotel, com um excelente serviço de quarto, televisão de satélite e uma boa ambulância à porta. Se a sociedade fosse justa (como já em tempos foi) havia de providenciar uma existência em que os luxos fossem aumentando à medida que uma pessoa se fosse aproximando da morte. Nem sai muito caro facilitar a vida aos velhos porque os desgraçados morrem e deixam de ser uma despesa. Aquilo que hoje acontece é precisamente o contrário. Os velhos não podiam ser mais maltratados. Os jovens, em comparação, são positivamente apaparicados. E volto à minha observação inicial. Se os velhos são desprezados e esquecidos, porque é que não se hão-de portar como delinquentes? Acho muito bem que abusem. Quando eu for velho, não hei-de descansar num comboio ou autocarro enquanto não fizer levantar um moço ou uma moça do assento, com um toque firme da bengala. Hei-de obrigar as pessoas – sobretudo aquelas com um ar de relutância – a ajudar-me a fazer tudo. A tirar o porta-moedas do bolso. As moedas do porta-moedas. E isso se me estiver a sentir generoso e me apetecer pagar. Em transportes públicos (incluindo táxis) nunca. Niguém tem coragem de pôr um velhinho na rua ou na cadeia. Há bastantes crimes que se podem cometer sem perigo de retaliação. Dos bons. Os juízes geralmente respeitam a velhicem. “Ó senhor Juiz, desculpe, mas quando roubei este Porsche não sabia que ia fazer falta aos patos da Tia Benta…” “Da tia quê?”, pergunta o juiz, confuso. “O homem está senil!”, diz o jovem advogado. E pronto. Mais uma no bucho.
Enquanto a sociedade portuguesa não respeitar e recompensar os velhos devem revoltar-se e ser o mais revoltantes possível. Portem-se mal! Se vão par ao inferno, porque não hão-de passar o que vos resta da vida, tornando a vida de quem resta no maior inferno possível? Não tenham compunções nem preconceitos. Eles também hão-de ser velhos um dia. Não é este, o sentido da democracia?



Márcia


O Paulo leu alguns excertos de
A Filosofia com Humor, Pedro Gonzalez Calero




 


Paulo






A Ana Martins

LINDO MONSTRO, de António Torrado

Não sou assim tão feio, disse o monstro,
a ver-se ao espelho.
Dos olhos, o do meio, ora azul ora vermelho
e pestanudo,
dá-me um ar singular,
tal como a tromba a badalar
e o pontiagudo dente
que não sei disfarçar
de tão evidente, saliente
ao sorrir e ao falar
e que, por ser maior, coisa pouca,
me alarga demais o canto da boca.

Ana Martins
Mas há pior, mais feios,
feios, de uma fealdade louca
cheios de verrugas
que nem tartarugas.
Monstros a valer.

Feios, feios, feios
que mais não podem ser.

Feio, eu? Cabeçudo? Façanhudo? Orelhudo?
Ora. Paleio.
O que eu tenho é um mau parecer.













A Sara, sobre o tema

Cartas a Deus, Carlos Pinto Coelho





























Sara


E, terminámos com muito riso, abordando um mesmo texto de formas muito pouco frequentes de ler. Adivinhar? Só para quem lá esteve...











                              (falta uma foto da Sara com a Luísa que deram um show de riso)


Até à próxima sessão...