LeItUrA dE pErNaS pArA o Ar
Ricardo Araújo Pereira
Esperança Gramatical
Lido por Sandra Coelho
Sandra Coelho |
Leituras Individuais
Todos os presentes escolheram uma CIDADE, é dessa que fica o registo fotográfico e um poema.
Bernardo Soares
Livro do Desassossego
Lido por Marisa Coutinho
Lisboa
Marisa Coutinho é LISBOA |
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores...
À força de diferente, isto é monótono.
Como à força de sentir, fico só a pensar.
Se, de noite, deitado mas desperto,
Na lucidez inútil de não poder dormir,
Quero imaginar qualquer coisa
E surge sempre outra (porque há sono,
E, porque há sono, um bocado de sonho),
Quero alongar a vista com que imagino
Por grandes palmares fantásticos,
Mas não vejo mais,
Contra uma espécie de lado de dentro de pálpebras,
Que Lisboa com suas casas
De várias cores.
Sorrio, porque, aqui, deitado, é outra coisa.
A força de monótono, é diferente.
E, à força de ser eu, durmo e esqueço que existo.
Fica só, sem mim, que esqueci porque durmo,
Lisboa com suas casas
De várias cores.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Eça de Queirós
A Cidade e as Serras
Lido por Ana Martins
Silves
Ana Martins é SILVES |
Ó Dona dos Corações, em ti talvez
Esteja a causa do tormento do cantor.
Diz adeus a quem te quer, 'inda uma vez,
E que, sem ti, por nada sente amor.
É que, se acaso, longe surges na lembrança
Por ti choro, Silves, pranto de criança.
Ibn Habib
Álvaro de Campos
Acordar
Lido por Sara Loureiro
Coimbra
Descem do Outeiro as casas da cidade
Como rebanho de ovelhinhas brancas
Que viessem com sede até ao rio.
E, coleante cobra, vai subindo a encosta
Íngreme, a estrada, entre surribos verdes:
É lá o Vale do Inferno onde demora
A curva do caminho, e dá descanso
Múrmura fonte: e donde Coimbra – cidade
É habitável sonho de poetas.
E desço aonde? Aos laranjais das ínsuas,
Às margens dos salgueiros e dos choupos:
“Líricas de Camões” dão-me vigílias,
“Amantes rouxinóis” modulam sonho.
Sara Loureiro é COIMBRA |
Olha: o Jardim, a Mata, e o par de namorados
Que deslaçam as mãos das verdes heras
Que cobrem os frondosos troncos seculares
Já quando te aproximas! Oh! noivas idades
Que procuram recantos entre as árvores
E as águas que murmuram! Pois os risos
Lavam e as lágrimas enxugam.
Rio acima, para o alto içando as velas,
Lá vêm da Foz as barcas dos serranos
Ajudando-as da margem com as sirgas:
E, num adeus que fica para sempre,
Que lindas, quando as leva o braço e o vento!
Afonso Duarte
Albano Martins
Uma Cidade
Lido por Fernanda Quintino
Setúbal
Fernanda Quintino é SETÚBAL |
Nunca fui mal procedido.
Nunca fiz mal a ninguém.
Se acaso fiz algum bem,
Não estou disso arrependido.
Se mau gosto tenho tido,
São defeitos pessoais;
Todos seremos iguais
No reino da eternidade;
Na balança da igualdade
Deus sabe quem fez mais.
António Maria Eusébio, O Calafate
John dos Passos
Lido por Teresa Salazar
Évora
Teresa Salazar é ÉVORA |
Pedindo em triste penitência a Deus
Que nos perdoe as míseras vaidades!
Tenho corrido em vão tantas cidades!
E só aqui recordo os beijos teus,
E só aqui eu sinto que são meus
Os sonhos que sonhei noutras idades!
Évora! ... O teu olhar ... o teu perfil ...
Tua boca sinuosa, um mês de Abril,
Que o coração no peito me almoroça!
... Em cada viela o vulto dum fantasma ...
E a minh'alma soturna escuta e pasma ...
E sente-se passar menina e moça ...
Florbela Espanca
Joaquim Pessoa
Lido por Paulo Carregosa
Paulo Carregosa é Viana do Castelo |
Viana do Castelo
A minha terra é Viana
Sou do monte e sou do mar
Só dou o nome de terra
Onde o da minha chegar.
Ó minha terra vestida
De cor de folha de rosa
Ó brancos saios de Pena
Vermelhinhos de Areosa
Virei costas à Galiza
Voltei-me antes para o mar
Santa Marta saias negras
Tem vidrilhos de luar.
Dancei a gota em Carreço
O Verde Gaio em Afife
Dancei-o devagarinho
Como a lei manda bailar
Como a lei manda bailar
Dancei em a Tirana
E dancei em todo o Minho
E quem diz Minho diz Viana.
Virei costas à Galiza
Voltei-me então para o sol
Santa Marta saias verdes
Deram-lhe o nome de azul.
A minha terra é Viana
São estas ruas estreitas
São os navios que partem
E são as pedras que ficam.
É este sol que me abraza
Este amor que não engana
Estas sombras que me assustam
A minha terra é Viana.
Virei costas à Galiza
Pus-me a remar contra o vento
Santa Marta saias rubras
Da cor do meu pensamento.
A minha terra é Viana
Sou do monte e sou do mar
Só dou o nome de terra
Onde o da minha chegar.
Ó minha terra vestida
De cor de folha de rosa
Ó brancos saios de Pena
Vermelhinhos de Areosa
Virei costas à Galiza
Voltei-me antes para o mar
Santa Marta saias negras
Tem vidrilhos de luar.
Dancei a gota em Carreço
O Verde Gaio em Afife
Dancei-o devagarinho
Como a lei manda bailar
Como a lei manda bailar
Dancei em a Tirana
E dancei em todo o Minho
E quem diz Minho diz Viana.
Virei costas à Galiza
Voltei-me então para o sol
Santa Marta saias verdes
Deram-lhe o nome de azul.
A minha terra é Viana
São estas ruas estreitas
São os navios que partem
E são as pedras que ficam.
É este sol que me abraza
Este amor que não engana
Estas sombras que me assustam
A minha terra é Viana.
Virei costas à Galiza
Pus-me a remar contra o vento
Santa Marta saias rubras
Da cor do meu pensamento.
Pedro Homem de Melo
Italo Calvino
Lido por Luís Correia
Montijo
Luís Correia é MONTIJO |
Mesmo depois do Tempo
ficaremos no coração aberto dos
que amamos.
E no grande silêncio que restar,
na ausência dos gestos e do olhar
ainda assim estaremos
e seremos.
Mesmo depois do Tempo
quando formos lembrança evanescente,
seremos outra forma de presença
porque o Amor subsiste
Eternamente.
Fernanda Seno Cardeira Alves Valente
Álvaro de Campos
Lido por Agostinha Ferreira
Porto
Neblina (À Cidade do Porto)
A névoa no Porto
Agostinha Ferreira é PORTO |
Subiu ao basalto
E a minha gaivota
Voou mais alto…
De pena lavada
Uma asa
É tesouro!
Em ternura…
Uma ponte
É de ouro
Se o leito
Roça o casario
Em tradições e em rio!
(A cidade é sólida…
A vida? Apenas um fio!)
António Castro
Alberto Caeiro
Lido por Sandra Coelho
Guimarães
Ecoam, pelas pedras da muralha,
As vozes, quer de nobre quer da plebe,
que entraram, lado a lado, na batalha
travada, com arrojo, em São Mamede.
Ecoam os apelos à coragem,
À luta, muito embora desigual,
Que, ousando pôr um fim à vassalagem,
Fundou um novo reino em Portugal.
.
Ecoam os lamentos, mais profundos,
De dor, as orações p'los moribundos
E mortos, que tombaram no combate.
.
Ecoa, ainda, o grito de "Vitória!"
Daqueles cuja voz, como memória,
As pedras são o eco e o resgate.
Vítor Cíntra
António Gedeão
Lido por Carmen Ezequiel
Elvas
Eu nasci no
Alentejo
À beira do
Guadiana
Carmen Ezequiel é ELVAS |
Sinto
orgulho quando vejo
A paisagem
Alentejana!
Uma moça da
cidade
Chamou-me de
provinciano
Eu tenho
grande vaidade
De ter
nascido alentejano!
Eu nasci no
Alentejo
À beira do
Guadiana
Sinto
orgulho quando vejo
A paisagem
Alentejana!
Ó Elvas, ó
Elvas
Badajoz à
vista.
Sou
contrabandista
De amor e
saudade
Transporto
no peito
A minha
cidade.
A minha
cidade.
A minha
cidade.
Paco Bandeira
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