A MULHER
Ó Mulher! Como és fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma se estorce amargurada!
Quantas morrem saudosa duma imagem.
Adorada que amaram doidamente!
Quantas e quantas almas endoidecem
Enquanto a boca rir alegremente!
Quanta paixão e amor às vezes têm
Sem nunca o confessarem a ninguém
Doce alma de dor e sofrimento!
Paixão que faria a felicidade.
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
Que se esvai e que foge num lamento!
Florbela Espanca - Trocando olhares
Ainda que a chuva permaneça lá fora e teime em inundar-nos a mente com a ausência de espaço, muitas foram as cadeiras preenchidas e os resistentes não tremeram e deram voz a MULHERES, tema escolhido na sessão anterior.
Foi um hino à MULHER e realçaram-se MULHERES.
Aqui está uma, com um projecto aliciante para quem gosta de ler em voz alta - LEVA, de Rosa Azevedo. Aos interessados aqui vos deixo o link.
(Uma vez mais se pedem desculpas pela inexistência de fotografias do grupo, pois a memória se vai degradando com o tempo; apesar de aqui não se adoptar o novo acordo ortográfico, onde "lêem" é para velhos!; mas se esquecem os cartões de memória da máquina)
lEiTuRa De PeRnAs PaRa O aR
A leitura de pernas para o ar é suposto ser uma leitura diferente, adversa ao tema ou não, podendo ser alternativo, total ou parcialmente oposto ao que temos por sistema ser o ler.
É um momento em que se lê, não lendo; rindo; vivendo o texto; pulando ou correndo; sentado ou deitado, mimicamente estado; sozinho ou acompanhado; recorrendo a adereços ou acessórios capazes de atrair aquele que ouve.
É o momento em que o estar, o ser, o sentir e o ler são unos e apenas o silêncio se possa ouvir... pelos menos, até ao final, onde os aplausos são gentes!
A Helena Barros ficou de "pernas para o ar", a qual deu voltas e voltas à sua cabeça para descortinar o que "raio seria a leitura de pernas para o ar?".
Trabalho dos alunos do 6º A, Colégio Nossa Senhora da Bonança, Vila Nova de Gaia, da Visão Júnior, 30 de Junho de 2011.
LEITURAS INDIVIDUAIS
Iniciamos as leituras com um grupo de 4 MULHERES que, já nos habituaram a ouvi-las em conjunto, e que se autodenominaram de "as mulheres que lêem são perigosas".
Trouxeram-nos alguns livros, cujas ilustrações valem pelas palavras que emitem, e muitos nos falam da luta que foi e tem sido para a mulher adquirir esse direito...
Graciete e Fernanda
MULHER
José Carlos Ary dos Santos
... e, saber que essa luta se mantém. Ainda há mulheres em todos os cantos do mundo vítimas desta sociedade "homenizada".
Ana e Helena
POEMA PARA TODAS AS MULHERES
Carmen
D' DE DESEJO (e outras formas)
A um tempo Dantes.
- Tão Dantes como hoje,
tão Dantes como outrora. -
Aos desamados e aos perseguidos.
Março 1987
Estúpido do Homem
que despreza uma
das mais amorosas
das Mulheres.
Mas eu sabia que seria
assim.
Tudo tão desprezível e vil,
que a vergonha
recairia sobre ti.
Mas não tenhas receio.
O teu mero pavor
saí com o teu sémen,
e se a raíz fosse solo
também sobreviveria.
Assim, enquanto
não me procurares
não me virás buscar.
Ana Filomena Guérin
Graciete e Fernanda
MULHER
A mulher não é só casa
mulher-loiça, mulher-cama
ela é também mulher-asa,
mulher-força, mulher-chama
E é preciso dizer
dessa antiga condição
a mulher soube trazer
a cabeça e o coração
Trouxe a fábrica ao seu lar
e ordenado à cozinha
e impôs a trabalhar
a razão que sempre tinha
Trabalho não só de parto
mas também de construção
para um filho crescer farto
para um filho crescer são
A posse vai-se acabar
no tempo da liberdade
o que importa é saber estar
juntos em pé de igualdade
Desde que as coisas se tornem
naquilo que a gente quer
é igual dizer meu homem
ou dizer minha mulher
José Carlos Ary dos Santos
... e, saber que essa luta se mantém. Ainda há mulheres em todos os cantos do mundo vítimas desta sociedade "homenizada".
Ana e Helena
POEMA PARA TODAS AS MULHERES
No teu branco seio eu choro.
Minhas lágrimas descem pelo teu ventre
E se embebedam do perfume do teu sexo.
Mulher, que máquinas és, que só me tens desesperado
Confuso, criança para te conter!
Oh, não feches os teus braços sobre a minha tristeza, não!
Ah, não abandones a tua boca à minha inocência, não!
Homem sou belo
Macho sou forte, poeta sou altíssimo
E só a pureza me ama e ela é em mim uma cidade
e tem mil e uma portas.
Ai ! teus cabelos recendem à flor da murta
Melhor seria morrer ou ver-te morta
E nunca, nunca poder te tocar!
Mas, fauno, sinto o vento do mar roçar-me os braços
Anjo, sinto o calor do vento nas espumas
Passarinho, sinto o ninho nos teus pêlos...
Correi, correi, ó lágrimas saudosas
Afogai-me, tirai-me deste tempo
Levai-me para o campo das estrelas
Entregai-me depressa à lua cheia
Dai-me o poder vagaroso do soneto, dai-me a
iluminação das odes, dai-me o cântico dos cânticos
Que eu não posso mais, ai!
Que esta mulher me devora!
Que eu quero fugir, quero a minha mãezinha,
quero o colo de Nossa Senhora!
Vinicius de Moraes
Carmen
D' DE DESEJO (e outras formas)
A um tempo Dantes.
- Tão Dantes como hoje,
tão Dantes como outrora. -
Aos desamados e aos perseguidos.
Março 1987
Estúpido do Homem
que despreza uma
das mais amorosas
das Mulheres.
Mas eu sabia que seria
assim.
Tudo tão desprezível e vil,
que a vergonha
recairia sobre ti.
Mas não tenhas receio.
O teu mero pavor
saí com o teu sémen,
e se a raíz fosse solo
também sobreviveria.
Assim, enquanto
não me procurares
não me virás buscar.
Ana Filomena Guérin
Luís Correia
CANÇÃO MULHERES
Já tive mulheres de todas as cores
De várias idades de muitos amores
Com umas até certo tempo fiquei
Pra outras apenas um pouco me dei
Já tive mulheres do tipo atrevida
Do tipo acanhada do tipo vivida
Casada carente, solteira feliz
Já tive donzela e até meretriz
Mulheres cabeça e desequilibradas
Mulheres confusas de guerra e de paz
Mas nenhuma delas me fez tão feliz
Como você me faz
De várias idades de muitos amores
Com umas até certo tempo fiquei
Pra outras apenas um pouco me dei
Já tive mulheres do tipo atrevida
Do tipo acanhada do tipo vivida
Casada carente, solteira feliz
Já tive donzela e até meretriz
Mulheres cabeça e desequilibradas
Mulheres confusas de guerra e de paz
Mas nenhuma delas me fez tão feliz
Como você me faz
Procurei em todas as mulheres a felicidade
Mas eu não encontrei e fiquei na saudade
Foi começando bem mas tudo teve um fim
Você é o sol da minha vida a minha vontade
Você não é mentira você é verdade
É tudo que um dia eu sonhei pra mim
Mas eu não encontrei e fiquei na saudade
Foi começando bem mas tudo teve um fim
Você é o sol da minha vida a minha vontade
Você não é mentira você é verdade
É tudo que um dia eu sonhei pra mim
Martinho da Vila
Paulo Carregosa
NÓS, AS MULHERES 3
Os homens e tudo o mais que nos rodeia
Maitena, escritora e cartoonista argentina
Fernanda Quintino
A MULHER QUE PASSA
Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pêlos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me encontrava se te perdias?
Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida?
Para o que sofro não ser desgraça?
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!
No santo nome do teu martírio
Do teu martírio que nunca cessa
Meu Deus, eu quero, quero depressa
A minha amada mulher que passa!
Que fica e passa, que pacifica
Que é tanto pura como devassa
Que bóia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.
Vinicius de Moraes
Sara Loureiro
Biografia de uma das maiores PORTUGUESAS COM HISTÓRIA DO SÉC. XX
e o seu (dele) TRUCA-TRUCA
Já que o coito, diz
Morgado,
tem como fim
cristalino,
preciso e imaculado,
fazer menina ou menino
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca,
sendo só pai de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! - uma vez.
E se a função faz o órgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado
Natália Correia
fazer menina ou menino
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca,
sendo só pai de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! - uma vez.
E se a função faz o órgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado
Natália Correia
Francine Prose
Escritora e autora de Ler como um escritor - um livro para quem ama os livros e para aqueles que desejam escrevê-los.
Pode a escrita criativa ser ensinada?
Esta é uma questão ser ou não ser... fica ao critério dos objectivos de quem ensina ou educa.
Para terminar, homenageamos Ana Filomena Guérin, escritora e antiga colaboradora no DN Jovem, já falecida, do seu livro D' de Desejo (e outras formas), 1987, de onde foram lidos alguns textos.
SENSUAIS
J'habitte
un chantier
entier!
(habito num corpo inteiro!)
Amar a minha,
ou a tua imagem
não é escolha proibida
de tão parecidas
ambas o são.
Eu sou a que com Ele
não como ou durmo
eu sou a que com Ele
não ceio, nem saio;
eu sou a que sem Ele
não tenho fome,
sono, ou rumo.
Todos os dias convivo
com o cio,
o anormal cio,
o voluptuoso cio,
o sangue e o cheiro,
os partos e as gestações,
dos muitos, imensos Animais.
Desenhei-te no ventre
uma esfera circular,
quase oblíqua,
e com um pincel fino
delineei os contornos
dum corpo vivo,
amoroso e sólido.
De seguida
demorei-me nos pormenores:
o cabelo, a boca,
a barba, e as narinas
freementes, ambiciosas,
as sobrancelhas e os olhos.
Os pés deixei-os nús,
impúdicos, radiosos,
as mãos igualmente,
despidas, demorosas.
Desenhei-te
um sexo ávido,
um coração puro,
e uma alma generosa.
Hoje
sinto-me demente,
quase alucinada,
sinto-me feliz!
- Afinal,
fui eu que te fiz! -
INTERIORES (Cadernos)
Ao dizer-te sim, digo o meu sim maior. Digo Amor, e poesia, e sonho.
Digo querer, tomar e ser.
Digo-o fraca, apaixonada. Digo-o forte, liberada.
E o som é sempre o mesmo: Púrpura e damasco.
Debruço-me, abarco o vazio. Volto-me, rodeio-me. Invento a tua boca, a tua língua, o teu paladar, os teus dentes, as tuas palavras húmidas de paixão. Procuro o teu cheiro, o teu defeito. A fonte terna do teu (meu) desejo. A flora, a fauna. O rio, o charco. A ponte, a cabana.
A esteira, que segue ao esconderijo.
Mordo-me enraivecida... Platonia.
Sem comentários:
Enviar um comentário